domingo, 29 de abril de 2012

sorrir



No dia do sorriso não faz mal sorrir, mesmo que seja um sorriso de banalidade. Aliás se formos a prestar atenção a multiplicidade dos sorrisos corresponde à multiplicidade das nossas expressões e à diversidade das nossas emoções. Sorrimos para expressar a nossa simpatia e o nosso desprezo, a nossa alegria e o nosso sentir sofrido, o nosso encontro e a nossa despedida, sorrimos para a nossa solidão e para a nossa companhia, sorrimos para nós e sorrimos para os demais... De facto do riso amarelo. ao riso da humilhação, ao riso amoroso, ao riso triunfante, até ao riso inocente e ao riso comprometido vai uma palete de cambiantes que tornam o sorriso numa das expressões mais diversificadas e complexas  do sentir humano. Chegamos a chorar sorrindo e a  rir chorando. Por isso um sorriso é sempre uma previligiada forma de comunicação humana. Vale sempre mais sorrir que ficar fechado no serrar dos sobrolhos. Então elejamos o sorriso como a forma mais elegante de comunicarmos uns com os outros, mesmo quando a nossa mensagem não é portadora do agradável. Aqui deixo o meu sorriso amável para quem tiver a descontracção suficiente para ler esta banalidade.

Já que estamos a falar de riso e de sorriso aqui transcrevo uma situação que pelo menos não fará chorar:
  Um maluco deixou cair o relógio duma janela do 3º andar. Desceu com toda a velocidade  pelas escadas abaixo e veio esperá-lo ao fundo. Alguém lhe perguntou o que estava a fazer: "á espera do meu relógio". Procure-o mas é no chão partido. - "Não senhor, que ele ainda não chegou cá abaixo, pois andava dez minutos atrasado".

domingo, 22 de abril de 2012

forasteiro


Muitas vezes na vida e mormente quando vemos que as nossas certezas, as nossas seguranças e as nossas melhores expectativas  se desmoronam, o melhor que nos pode acontecer é que alguém, que caminhe o mesmo caminho da vida, se interesse pelas nossas preprexidades e nos ajude a descobrir o sentido daquilo que nos surge como sem sentido. Não resolve tudo mas é como se uma pequena luz se acendesse dentro de nós iluminando a confusão que parece paralizar a nossa capacidade de ver, de analisar e de confrontar a realidade com o sonho, a promessa com o acontecido, a intuição com a realidade. Esse forasteiro torna-se numa porta aberta para a descoberta da novidade que se apresenta quando somos capazes de aceitar viver sem todas as certezas e sem todas as seguranças. Acabamos por descobrir que as respostas se encontram fora de nós e que a aparência pode ou não ser manifestação da realidade. Somos de facto aquilo que a relação com os demais nos ajuda a ser.

sábado, 14 de abril de 2012

fragilidade



Nada mais fraco e desprotegido que aquele que adormece à sombra do chapéu a que chama segurança e fortaleza. Qualquer rajada de vento vira o chapéu e ou acorda para uma nova realidade, ou fica sujeito á intempérie e ás consequências supervenientes. Sempre que pensamos que somos senhores do universo, este rápidamente demonstra que não aceita tiranos, mas apenas humildes servidores. Sempre que nos parecer que conseguimos ver  e expressar toda a verdade o melhor é marcar uma consulta para o oftalmologista pois é sinal duma perigosa miopia  ou de cataratas em estado avançado.

Encontrar graça á desgraça ou brincar com a fraqueza é afirmação de mediocridade. Servir-se  da insegurança, da dependência, ou da amargura alheia para conseguir vantagens é manifestação de mesquinhês e garantia de que dali só serão de esperar chantagem, desilusões e manipulação.

O primeiro passo para avançar é aceitar os momentos de desequilibrio e insegurança resultantes do facto de ficar momentaneamente apoiado só num pé. Quem quiser não mudar os pés do mesmo sítio corre o risco de se transformar em estaca que dificulta o caminho de quem não desiste de avançar.

A fragilidade da força é a auto-suficiência que dificulta o diálogo incondicional e a força da fragilidade é a convergência das frágeis forças dispersas que transformadas em bloco são capazes de ser suporte consistente de novo edifício. Não se trata de unanimismo mas de sintonia de esforços para remover obstáculos que pareciam inamovíveis.

sábado, 7 de abril de 2012

Páscoa 2012




Nesta Páscoa desejo a todos os que entrarem neste blogue, seja qual for o local em que se encontrem, que á sua mesa não escasseie o pão da alegria, o tempero da amizade, nem a confiança no futuro como adoçante.

Após um tempo de pausa, de expectativa, de confusão e de alguma desesperante desilusão, é-nos proposto que abramos os nossos olhos, nos voltemos para a luz que irradia do Novo Sol, e deixemos que  nova luz ilumine os obscuros recantos da nossa existência, onde se escondem os nossos medos, as nossas inseguranças, as nossas frustrações e desencantos, mas também os nossos sonhos, a nossa vontade de  nos superarmos e de nos erguermos vitoriosos  sobre a nossa precariedade individual e colectiva.

Um dia a Páscoa de Jesus será também a nossa Páscoa. Vivemos a mesma aventura humana, atravessaremos o silêncio transformador e emergiremos no intuído e sedutor desconhecido. Solidários na mesma aventura do devir humano. Não sei como nem quando, mas sei que lá estarei e lá nos re-encontraremos. Afinal Páscoa é acontecimento anunciado, promessa cumprida, profecia realizada, imprevisto previsto. A todos os que lerem esta mensagem e sintonizarem com o fundamento do seu conteúdo convido a juntarem-se a mim numa silenciosa, mas profunda salva de palmas a Jesus ressuscitado.

grande pausa


Hoje é tempo de silêncio denso, tenso, profundo e expectante. É o Sábado da Semana Maior que faz a ligação entre a tragédia, o drama, a vivência dolorosa e sofrida do ontem e a surpresa, a claridade e a sublimação do amanhã. Hoje é a grande pausa que faz a ligação entre o antes e o depois, entre a realidade e o sonho, entre o precário e o consistente. Hoje é dia de escutarmos as nossas dúvidas, os nossos anseios, o eco dos nossos falhanços e os apelos à superação de nós mesmos.

Todos e cada um de nós teremos a nossa Sexta-Feira maior e durante  um grande Sábado transitaremos da condição de mortais para a condição de imortais, por muito ou pouco empolgante que tenha sido a nossa vivência temporal. Por muito esforço que faça e por muito ruído que introduza na minha engrenagem interior não consigo conformar-me com a proposta de que surgi do nada e ao nada regressarei. Encontro em mim eco daquela afirmação de Jesus de Nazaré: "Eu vivo e vós vivereis".

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sexta-Feira Santa

   Hoje há gente que morre pela simples razão de se reconhecer cristã, de reconhecer Jesus como referencial da sua existência e a Ele aderir como Caminho, Verdade e Vida. Hoje é Sexta- Feira Santa.
  Hoje há gente que é injustamente julgada e condenada em nome do mais conveniente para o poder instituído. Hoje é Sexta-Feira Santa.
  Hoje há gente que sofre as consequências de ter nascido frágil e dependente. Hoje é Sexta-Feira Santa.
  Hoje há gente que morre crucificada no alto da montanha formada pela injustiça, condenação, abandono e precariedade. Hoje é Sexta-Feira Santa.
  Em cada um de nós existem marcas de injustiça, de fragilidade, de sofrimento, de dúvida, de tristeza, de alienação, de precariedade. Hoje é também Sexta-Feira Santa em cada um de nós.

domingo, 1 de abril de 2012

De burro?


Por muito entretidos que andemos e por mais esforço que investamos para esconjurar esse monstro que nos vai devorando e a que podemos chamar desemprego, carestia ou depressão, estamos a iniciar uma semana que duma forma ou de outra não nos deixa indiferentes. A nossa tradição chama-lhe Semana Santa ou Semana Maior  e duma forma mais ou menos assumida remete-nos para uma dimensão que mexe com as mais profundas inquietações do ser humano. Se estivessemos apenas perante a evocação de factos históricos bastava ler os livros, interpelar a História e fazer umas quantas cerimónias evocativas. Mas o que aparece perante os nossos olhos é o triunfo da injustiça. o drama da violência, o abuso do poder, o amesquinhamento da pessoa. a aniquilação do diferente, a morte do justo transformada em exemplo para todos quantos não queimam incenso no altar do poder económico, do poder político e do poder religioso. Todos andamos á procura duma resposta para tanto absurdo. Será que o Nazareno montado num jumento a caminho da sede do poder político, do poder religioso e do  poder económico ainda continua a inquietar estes poderes instalados sobre a angústia, o sofrimento e o aviltamento dos povos na diversidade dos locais e das latitudes?