domingo, 24 de maio de 2015

Festa do Espírito Santo 2015

 
Com o passar do tempo, medido em anos e mesmo em décadas, vamos percebendo que  a nossa vida se manifesta através duma estranha forma de viver. É que quando sonhamos não sabemos se estamos dormindo, quando procuramos não sabemos se estamos fugindo, quando caminhamos não sabemos se estamos num caminho ou num beco sem saída, quando imaginamos não sabemos se estamos em estado de alienação e quando lutamos tanto podemos estar a preparar a guerra como a paz. O que nos vai confortando é a ligeireza com que vamos planando e a subtileza com que afagamos a realidade, como gatos deslizando sobre brasas cobertas de cinza mas ainda não apagadas. O saber de experiência feito diz-nos que a vida consciente não é pacífica, sobretudo quando não nos deixamos embriagar pelo acessório, quando não nos contentamos com respostas simplistas, quando não nos armamos em moralistas de conveniência, quando teimamos em procurar mesmo com pouca luz, ou quando recusamos propostas de verdade que mais parecem engodo do que alimento que nos faça crescer.
Hoje invoco com a simplicidade duma criança, que estragou o brinquedo e recorre ao pai para a  ajudar a repara-lo, a ação mobilizadora do Espírito Divino. Sei que pode ser entendido como sinal de fraqueza e de facto esta é manifesta, mas não me resigno a um horizonte fechado, cinzento e onde a única expetativa é aguardar resignado a tempestade destruidora da terra fecunda, das habitações humanizadas, das pontes sobre os abismos e dos terreiros onde mesmo à noite se dança e canta a alegria de viver.
Aqui deixo estas estrofes dum poema que ouvi, como quem escuta uma mensagem que  chega do Infinito, na liturgia deste domingo chamado e celebrado como o dia do Espírito Santo: "vinde ó Santo Espírito, vinde amor ardente, acendei na terra vossa luz fulgente; benfeitor supremo em todo o momento, habitando em nós sois o nosso alento; abrandai durezas para os caminhantes, animai os tristes, guiai os errantes."