terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Carnaval






A vida por vezes troca-nos as voltas e ou é parca em oportunidades, ou então abunda em multiplicação de acontecimentos que vão tentando distrair os transeuntes dos mais ou menos acidentados e turtuosos caminhos da existência. Basta reparar na diversidade de máscaras e de carnavais. Cada qual tem a sua colecção de máscaras que vai usando conforme as suas conveniências nos vários carnavais em que vai actuando como promotor, actor, utilizador, utilizado, cabeçudo, narigudo, barrigudo, despido, invertido, ou simplesmente como espectador arrastado pela enchurrada que avança sem margens que a possam conter. Mas que seria a vida sem esta diversidade de carnavais? Como viveríamos sem o recurso a esta multiplicidade de máscaras? Que aconteceria se permanentemente víssemos a verdade de nós mesmos e se os outros podessem ver-nos como realmente somos? Ainda bem que podemos recorrer ás máscaras mais diversas e viver num constante carnaval! É só escolher em qual dos cortejos carnavalescos nos queremos inserir: o carnaval da política ? da religião? da economia? da educação? da justiça? da banca? da moda? do desporto?...Provàvelmente vamos andar de máscara até ao final da jornada e viver nesta constante sequênca carnavalesca. E vivam os foliões!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Reflexões de fim de semana




A semana passada foi pródiga em notícias de desemprego acelerado, ausência de prespectivas de recuperação do ânimo colectivo, acumular de tensões sociais, acréscimo de insegurança real e psicológica, enfim foi um espaço de tempo em que o sabor da incerteza nos proporcionou alguma azia. A desejada convergência de esforços tarda em chegar e as lideranças parecem mais interessadas em arregimentar adeptos que lhe proporcionem subir alguns degraus na escada de acesso ao poder, do que na procura honesta de soluções possíveis e eficazes. Chego quase a pensar se não estou a assistir ao ensaio duma tragédia anunciada. Quero acreditar que os meus receios sejam sobretudo resultado dalguma dificuldade pessoal de adaptação aos novos tempos e que aquilo que para mim surge como irresponsabilidade, demagogia, demissão, aproveitamento das fragilidades instaladas, luta pelo poder a qualquer preço, seja afinal uma estratégia bem montada visando sair da tempestade com o entusiasmo de quem descobre que não pereceu afogado. Sei que a sociedade, como qualquer organismo vivo, encerra em si o instinto da sobrevivência e que por muito tempestuosa que seja a noite sempre há-de surgir um novo dia e que esse novo dia será sempre mais luminoso que a tarde cinzenta que o precedeu.
Neste domingo participei, como é meu hábito conscientemente assumido, na celebração litúrgica da comunidade cristã católica e o apoio a todos os homens e mulheres que se empenham activamente na construção duma sociedade sempre mais renovada fez parte do conjunto de propostas transformadas em prece. Sejam aplaudidos, animados, estimados e apoiados todos quantos dão o seu melhor a favor do bem comum.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Vila de Sesimbra





A pequena e piscatória vila de Sesimbra escorregou por uma falésia que se situa entre o Cabo Espichel e a serra da Arrábida e por pouco não se afogou no mar . Foi o Castelo sobranceiro que a agarrou e defendeu no abrigo da sua encosta.


domingo, 8 de fevereiro de 2009

Reflexões de fim de semana



Hoje enquanto almoçava a televisão transmitia uma reportagem sobre o encerramento da convenção do Bloco de Esquerda. Era manifesto o entusiasmo da crítica descomprometida, das afirmações alti-sonantes, das propostas sedutoras de quem não pensa levá-las à prática, enfim dos juizos de quem nunca teve de julgar e de decidir. É certo que novas ideias geram novas hipóteses e que novas hipóteses abrem a porta a novas soluções e nesta prespectiva a democracia como espaço de debate aberto, mesmo quando descomprometido, é sempre a eira onde à custa de muita pancada se vai separando a palha do grão. Como até aos 36 anos vivi sob um regimen monolítico, de bom grado me presto a pagar a factura resultante da produção de alguns excessos que acabam por ser acondicionados nos armazens de resíduos tóxicos que surgem como sub-produtos de qualquer regimen democrático. Mais tarde ou mais cedo esses sub-produtos acabam por ser reciclados e transformados em mais-valias e vantagens para uma sociedade pensante. Para além dos conteudos, das mensagens e dos jogos políticos, apraz-me sublinhar, com algum encantamento, o meu apreço pelas novas liturgias político-partidárias. Nem os carismáticos em todo o seu fervor religioso conseguem alguma aproximação. É a oratória inflamada, são as bandeiras que se agitam frenéticamente, são os punhos abertos ou fechados que se erguem com energia, são as cores e a disposição dos espaços, são os púlpitos e os lugares hierárquicos, são as palavras de ordem que definem o pensamento e as atitudes, são os mestres de cerimónias que marcam os ritmos das pausas, dos aplausos, dos exorcismos, das afirmações e das negações... Só falta em toda esta liturgia laica um rito de reconhecimento das próprias contradições, das inverdades, do uso abusivo das fragilidades de muitos, da procura do poder pessoal e grupal.
A par e para além do que atrás fica referido algumas outras reflexões me ocuparam a mente e preencheram este domingo que se apresenta triste, sombrio, de horizontes baixos e um tanto lacrimejante. A precaridade e transitoriedade da existência, das coisas, das relações, das decisões, dos fenómenos, das respostas, dos acontecimentos é uma dimensão que por um lado é assustadora e por outro é esperançosa. Tudo depende do referencial de vida que cada pessoa consegue assumir. Estar atento ao que cada pessoa é e não sobretudo ao que ela parece, ou ao que ela tem e pode, é certamente um bom caminho a percorrer. Fazer a aventura da gratuidade nas atitudes e nas relações humanas pode ser uma boa forma de viver a vida sem o sentido da perda constante. Reflectir, fazer sínteses, procurar respostas é um exercício saudável de procura, de descoberta evolutiva e de enfrentamento da referida precaridade.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Reflexões de fim de semana




Este fim de semana, que se despediu já do chuvoso e enfadonho mês de Janeiro, não se apresenta com ares descontraídos e de grandes optimismos. São as mais variadas e avariadas depressões, são as muitas corridas de burros procurando derrubar os púcaros cheios de areia ou de algum líquido mal cheiroso, são as sonantes gargalhadas de histerismo, são as infindáveis sessões de auto-flagelação, são as persistentes massagens opinativas da ausência de certezas, são as múltiplas manifestações de tragédia resultante duma comédia vivida até à exaustão... Enfim é muita areia para a minha camioneta! Será que não vem por aí alguma réstea de sol que ilumine este horizonte triste e sombrio? Será que chegados ao fim da encosta ainda existe coragem para descobrir novo caminho que conduza a um ponto mais alto onde se descortine um novo horizonte? Confio que sim e que, passado o tempo da lamúria, do escárnio e do mal dizer, voltemos á nobre tarefa de construção conjunta da nova cidade onde seja mais agradável viver. Sempre me fez confusão verificar a rapidez com que algumas árvores da floresta cresciam tanto e tão rápido e outras plantas rastejavam ou não passavam da mediania. Pobres plantas rastejantes que encontram como razão de existência fertilizar a terra que vai alimentar os grandes exemplares do mesmo reino!
Chegaram-me hoje ás mãos umas quantas afirmações ou sentenças, que, a propósito ou não do que atrás fica referido e que não passa dum conjunto de "gafanhotos" que se soltaram dum espirro mal dado, aqui ficam transcritas: "a inteligência sem amor faz-te perverso", "a justiça sem amor faz-te implacável", a diplomacia sem amor faz-te hipócrita", "o êxito sem amor faz-te avaro", "a docilidade sem amor faz-te servil", "a pobreza sem amor faz-te orgulhoso","a beleza sem amor faz-te ridículo", "a autoridade sem amor faz-te tirano", "o trabalho sem amor faz-te escravo". Lirismo duma tarde de inverno frio, chuvoso e sombrio ! Eu sei, mas o lirismo também é uma forma de expressão não despresível do espírito humano.