sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal de 2009


Hoje é dia de Natal! Finalmente se descansou da azáfama em que todos de uma forma ou de outra andámos envolvidos. Mas que festejamos afinal? Que força nos impele a manifestarmos o que de melhor existe em nós? Quem nos faz mais próximos? Quem embala a criança que em cada um de nós ora chora, ora sorri? O que se passa é que Deus se fez criança humana e a pessoa humana ascendeu ao estatuto de filha adoptiva de Deus. Não sabemos explicar a transcendência deste acontecimento, mas sentimos que algo de inteiramente novo entrou na nossa história individual e colectiva.

Neste dia fui especialmente sensível á afirmação do Cardeal Patriarca de Lisboa ao afirmar que "só os homens justos e as mulheres justas são capazes de construir a justiça". Esta afirmação em dia de Natal adquire especial significado e faz-me pensar no que explica que o nosso sistema de Justiça ande tão esburacado.

A televisão faz chegar até nós a universalidade do Natal e assim torna próximo o que está distante. O Natal faz da nossa terra a "cidade não abandonada".

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal de 2009


Nesta véspera de Natal sinto-me fraterno com todos aqueles que, tal como eu, reconhecem Jesus como a grande dádiva de Deus á Humanidade, pois Ele é de facto o Deus Connosco, mas sinto-me igualmente em comunhão com todos os humanos que de diversas formas se alegram pressentindo que algo de transcendente aquece os seus corações, tornando-os mais próximos e mais solidários. Sei que este sentir universal brota, para uns da certeza, para outros da intuição, de que Deus é a nossa paz. A minha memória reconduz-me ás vivências do meu ontem desmultiplicado em experiências simples, reflexões académicas, especulações de tipo filosófico, análises sociológicas, vivências afectivas e celebrações religiosas. Todo este património acumulado me leva nesta noite que se aproxima a, na simplicidade do encontro com uma criança, proclamar: "glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que Ele ama".

domingo, 13 de dezembro de 2009

Natal de 2009



João Baptista continua por aí, não sei se dirigindo-se à cidade ou se de regresso ao deserto. Seja qual for o seu rumo sempre vai insistindo em dizer que se não nos abrirmos aos outros, se continuarmos a achar normal engordar à custa da pouca gordura dos magricelas e se vivermos pacificamente com a utilização da força do poder para manter as múltiplas estruturas de poder, certamente que, apesar dos muitos baptismos recebidos, ainda nos falta ser baptizados no "Espírito Santo e em fogo" transformador. Cada celebração de Natal é uma nova proposta e refugiarmo-nos no folclore mítico de tipo pagão, ou na tradicional celebração pretensamente religiosa, apenas nos levará à prosaica, enfadonha e resignada constatação de que "foi mais um Natal". A preocupação da procura inteligente do sentido das esperanças profundas da humanidade e de cada pessoa; a descodificação do sentido das palavras, dos gestos, dos ritos e das celebrações; o cultivo da tolerância activa com os que na sua especificidade calçam não os sapatos de modelos instituídos, mas sandálias que mal protegem do pó e da lama, serão certamente janelas por onde vai entrar o Sol da paz e da alegria.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Saudação



É uma honra e uma alegria participar nas festividades promovidas para honrar os que nos são caros e que pela amizade, ternura e protecção estão presentes na nossa vida individual e colectiva. Hoje é um desses dias em que festivamente nos dirigimos a Maria, a mãe de Jesus, proclamando que Ela é a "honra da Humanidade", a alegria do "nosso povo", a rosa que embeleza a nossa "casa terrestre", a estrela que aponta o rumo da nossa "barca da vida" e a ternura de Deus que nos é dada para adoçar as agruras da nossa existência. Os nossos antepassados a proclamaram em 1646 como Padroeira e em 1656 também como Rainha. Esta Rainha não vive dos nossos impostos, não cobra vassalagem, não convoca para o julgamento, apenas nos sorri e estendendo-nos os braços nos diz: "tende coragem, não desistam de construir um "homem novo" e uma "nova cidade" em que "todos tenham lugar "e em que cada vez mais Deus seja tudo em todos. Ao nosso desabafo de "como é que isso vai ser possível", Ela responde-nos com simplicidade e certeza total: "não temais pois a Deus tudo é possível". Unindo-me à multidão dos que neste dia festejaram, ou simplesmente alteraram o seu ritmo de actividade normal, saúdo Maria de Nazaré, a eleita de Deus para ser a mãe de Jesus, a mãe da "nova humanidade". Ao pensar Nela recordo a minha mãe e ao recordar a minha mãe vislumbro a Sua suave presença.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Natal de 2009



A última semana ficou marcada por dois acontecimentos que ficam como referência durante todo o presente ano e a balizar, cada um à sua maneira, o futuro tanto nesta ancestral Europa, como em toda a vasta área ibero-americana. Estou a referir-me à cimeira ibero-americana do Estoril e à entrada em vigor do novo Tratado Europeu, conhecido como o Tratado de Lisboa. Que os líderes da quase totalidade dos países de língua portuguesa e espanhola se tenham reunido na "casa portuguesa" para conversar é só por si um acontecimento de importância relevante. Que os vinte sete paises da Comunidade Europeia tenham em Lisboa , no passado dia 1 de Dezembro, dado início ao tratado de Lisboa é um acontecimento que ficará na história desta velha Europa, que muito penou para chegar até aqui, mas que se pode orgulhar de ter atingido uma fase nobre no relacionamento entre povos, estados, línguas e culturas . Quem viveu as tragédias do passado só pode alegrar-se com o caminho percorrido. Foram muitos séculos de evoluir até chegarmos aqui.

Neste terceiro domingo que precede o Natal ouve-se o eco da palavra austera de João Baptista que chega da profundidade do tempo e do silêncio do deserto proclamando a urgência de "construirmos novos caminhos, prenchermos os vales que nos separam e aplanarmos as barreiras que nos dividem, para que para todos chegue uma nova ordem em que a justiça seja a base sobre a qual se constrói a nova cidade".

A"nova sociedade" vai surgir a partir da reciclagem das velhas, bafientas e empoieiradas mentalidades que desfiguram o que de melhor existe em cada ser humano. Uma nova cidadania em que esta história nos escandalize pelo seu anacronismo e infantilidade primária: "na sociedade do tempo das cavernas existiam quatro tipos de cidadãos: "Toda-a-Gente", "Alguém", "Qualquer-Um"e "Ninguém". Havia um importante trabalho a realizar, (o trabalho de remodelar a casa comum) e "Toda- a- Gente" tinha a certeza de que "Alguém " o havia de fazer. "Qualquer Um "o podia fazer, mas "Ninguém " o fez . "Alguém" se zangou porque era um trabalho para "Toda- a- gente". "Toda -a- Gente" pensou que "Qualquer-Um" o podia ter feito, mas "Ninguém" constatou que "Toda- a- Gente" não o faria. No fim "Toda- a-Gente" culpou "Alguém", quando "Ninguém" fez o que "Qualquer-Um" podia ter feito. Assim surgiu um quinto tipo de cidadão: o tipo "Deixa -Andar".

domingo, 29 de novembro de 2009

Natal de 2009



Algo de extraordinário já se vislumbra caminhando pelas ruas, alguém de importante está para nos visitar, algum acontecimento importante está para ocorrer. A cidade surge engalanada de luz com efeitos alusivos e simbólicos, no ar respira-se um cheiro de poesia, aqui e ali ouve-se um ou outro cântico que trás à superfície a criança que ainda vive dentro de nós, seja qual for a idade de cada um. Que se passa? Quem se espera?
Daqui a pouco é a festa do Natal. Mais umas semanas e para alegria dos humanos se celebra a entrada de Deus na nossa história e o acesso da humanidade à dimensão de transcendência a que está vocacinada. Por muito irracionais que possamos ser na ausência da procura do sentido profundo do significado da celebração do Natal, o certo é que esta nos continua a interpelar e a surgir como porta aberta para entramos na dimensão onde encontramos as grandes respostas para a nossa existência e convivência.
Aqui deixo algumas frases deixadas pela sabedoria de muitos de quantos foram capazes de passar as barreiras da rotina: "muito sabe quem conhece a própria ignorância"; "o homem de bem exige tudo de si próprio, o homem medíocre espera tudo dos outros"; "viver é a única coisa que não dá para deixar para depois".

domingo, 22 de novembro de 2009

Justa homenagem



Não é meu hábito adular o poder e nem sequer homenageá-lo. Poucas vezes na vida encontrei alguém que fosse detentor de poder e não o utilizasse como meio de se afirmar perante os demais e muitas vezes como forma de pressionar ou mesmo subordinar todos quantos eram influenciados por esse mesmo poder. Assistimos em continuidade aos jogos de poder, ao aproveitamento do poder, ao usufruto do poder, ao abuso do poder e mesmo à tirania do poder.
A noção concretizada do poder como oportunidade previligiada para servir o outro e todos os outros, para libertar o outro e todos os outros, para potenciar o que de melhor existe no outro e em cada outro, surge normalmente como uma utopia que alimenta o nosso imaginário, mas que não é traduzida em intervenção constante, consistente, inteligentemente programada e afincamente prosseguida. Ainda assim o meu incentivo e apoio a todos quantos procuram fazer do exercício do poder a oportunidade única e passageira de servir, libertar e promover, sem necessidade de beija-mão, de curvaturas de cabeça, de salamaleques, de aplausos organizados, de reportagens televisivas, de manipulação programada do pensar, do sentir e do agir do outro e de cada outro.
Contudo existe Alguém a quem neste dia presto a minha profunda, continuada, exclusiva e total homenagem. Sei que é uma homenagem simples, silenciosa e pouco colorida, mas mesmo assim tenho a ousadia de publicamente a proclamar. Hoje a humanidade, através das diversas comunidades cristãs presentes em todos os confins da terra, presta homenagem a Jesus como Senhor do tempo , da história e do universo . É a festa litúrgica de Cristo Rei. Ele é reconhecido como o "Alfa e o Ómega" , como Aquele "que é, que era e que será", como Aquele que exerce e manifesta o seu poder amando todos, servindo gratuitamente a todos, libertando todos, promovendo todos. A Ele "a glória e o poder pelos tempos sem fim". Apenas pesso o transcendente e gratuito previlégio de O poder honrar, proclamar e testemunhar o Seu poder libertador, hoje e amanhã, no tempo e para lá do tempo.
Ouso ainda partilhar uma reflexão que hoje me entrou pela porta dentro:
"Em todas as horas do dia, tu dás, ainda que não seja mais que um sorriso, ainda que não seja mais que um aperto de mão, ainda que não seja mais que uma palavra de ânimo!
Em todas as horas do dia te pareces a Ele, que não é senão doação perpétua, abertura perpétua, presente perpétuo!
Devias erguer o teu rosto e dizer-Lhe: obrigado porque posso dar, porque mais vale dar que receber!"

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A queda dos muros




Por vezes os caminhos têm tantas curvas e contra-curvas que é difícil vislumbrar se o local para onde pretendemos ir está longe ou perto. Quando isto acontece necessitamos de renovar as energias, continuar e confiar que havemos de chegar com sucesso.
Recordo-me que por altura dos anos de 197o muitos dos que partiam para a guerra colonial, ou dela regressavam, muitos dos que ficavam vivendo a angústia da incerteza e muitos dos que teimavam em manter viva a chama de que chegaria o dia em que a lógica da "pescadinha de rabo na boca" seria denunciada e regeitada, partilhavam com um misto de confiança, de revolta e de sentimento de luta latente, a esperança de que o derrube do poder instituido aconteceria. Só não sabíamos o como nem o quando. Por esses tempos, para nos animarmos uns aos outros, quando nos reuníamos em comunidade cristã, por vezes cantávamos: "os muros vão cair, os muros vão cair, e mesmo que demare muito, eu só sei dizer que os muros vão cair". Em abril de 1974 caiu o regime e as barreiras derrubadas, apesar das amachucadelas, não provocaram vítimas. Foi uma grande festa, a festa da vida, a festa de todo o povo.
Tive igualmente a feliz oportunidade de viver a euforia libertadora que foi o derrube histórico do "muro de Berlim". O muro caiu fez ontem 20 anos, o povo festejou e ninguém se magoou. Foi uma grande festa que continua a animar esta velha Europa que avança para a fase em que a diversidade reforça a unidade e a unidade faz brilhar a diversidade.
Se a vida ainda me mimar com mais alguns anos de saúde e lucidez de espírito, muito gostaria de poder festejar, além da queda dos muros da Irlanda e de Chipre, sobretudo a queda do muro secular que separa judeus e palestinianos. Bem sei que só vejo curvas e contra-curvas, mas quero partilhar a esperança de que tal acontecerá um dia para alegria de quantos continuam a acreditar que a força transformadora é como um íman que nos atrai a partir dum ponto situado algures no futuro.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Hino à vida




" A vida é uma oportunidade, agarra-a. A vida é beleza, admira-a.
A vida é bem-aventurança, saboreia-a. A vida é um sonho, faz dele uma realidade.
A vida é um desafio, enfrenta-o. A vida é um dever, cumpre-o.
A vida é um jogo, joga-o. A vida é preciosa, cuida dela.
A vida é amor, desfruta-o. A vida é um mistério, penetra-o.
A vida é promessa, cumpre-a. A vida é tristeza, vence-a.
A vida é um hino, canta-o. A vida é um combate, aceita-o.
A vida é uma tragédia, abre-lhe os braços. A vida é uma aventura, ousa-a.
A vida é uma felicidade, merece-a. A vida é a vida, defende-a."
(homenagem a Madre Teresa de Calcutá)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sabedoria



"Se verdadeiramente me amas não chores".

"Mais vale um silêncio prudente do que uma verdade pouco caridosa".

"Se choras por ter perdido o Sol, as lágrimas não te deixarão ver as estrelas".

"A verdadeira felicidade consiste em amar o que temos, e não nos sentirmos mal por aquilo que não temos".
"Quem passa o tempo a julgar, não tem tempo para amar".

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Linguagem e mensagem

É certamente difícil aceitar a diferença, sobretudo quando estamos convencidos que a nossa experiência de vida foi e é alicerçada sobre o que persecionamos como a verdade para nós inquestionável. A nossa visão persistentemente procurada e apurada, pode facilmente ser para o próprio critério de verdade e transformar-se em proposta irrecusável e rejeição de visões e leituras diferentes das nossas. Deus é, mesmo que eu negue a Sua existência, ou diga que é um produto de cabeças ignorantes, malévolas e sub-desenvolvidas. Querer chegar à mensagem sem contextuar a linguagem é continuar a afirmar que "todas as cartas de amor são ridículas", dando como razão que nunca escreveu cartas de amor, ou que nunca foi capaz de amar. Negar ou menorizar a mensagem porque não sintonizamos com a linguagem é corrermos o risco não apenas de não compreendermos donde vimos, mas também de não intuirmos para onde vamos. Assim ficamos limitados a ser um fugaz episódio ocorrido em determinado e louco momento histórico. Recuso-me a aceitar o "nada " como resposta de vida e o "sem sentido" como critério de existência. A Bíblia ajuda-me, percorrendo o penoso, dialéctico e por vezes contraditório caminho da evolução e da existência humana, a percepcionar Deus como Vida partilhada, Justiça misericordiosa, Liberdade libertadora e Verdade que ilumina as muitas sombras da existência humana.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Nova Legislatura

Terminado o longo e por vezes cansativo e irritante período eleitoral é altura de assentar os pés no chão e pormo-nos de novo a caminho. Hoje abre a Assembleia Legislativa e aqui deixo uma especial saudação a todos quantos foram escolhidos como representantes do Povo Português para constituirem esta Assembleia Magna durante esta nova legislatura. Abre-se uma nova etape que vai ter características específicas, atenta a constituição da Assembleia, a necessidade de consensos mais trabalhados e os múltiplos desafios que enfrentamos. Confio em que mais importantes que as diferenças das várias visões de cada bancada, são as esperanças que todo o povo deposita na nova Assembleia da República. Qualidade, Inteligência, Responsabilidade, Ousadia, Dignidade, Competência, Racionalidade, Honestidade e Trabalho é tudo quanto exigimos reflectido na acção deste novo Parlamento.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Abundâcia Lusitana



Diz a sabedoria popular que "não há fome que não dê em fartura". Nos tempos da minha juventude aspirei pelos tempos em que no meu país se podesse, em liberdade e sem medo, escolher aqueles que dentre o povo fossem reconhecidos como os melhores para dinamizar a marcha rumo a novos patamares de progresso social, educacional, cultural e económico. A prespectiva de que o "poder de servir"se tem de sobrepor á ânsia do "poder de domínio" conduziu-me pouco a pouco à convicção de que não chega ter liberdade, mas é necessário aprender a ser livre. Viver em democracia não é fácil e exige um constante esforço de crescer individual e colectivamente. Este ano de 2009 é pródigo em actos eleitorais. Os "portugas" foram já votar para o Parlamento Europeu, para a Assembleia da República e no próximo dia 11 do presente mês lá vão de novo votar para as Autarquias e Juntas de Freguesia. Não há fome que não dê em fartura! Desta vez é que ficamos todos esclarecidos sobre o que queremos para a Europa, para o País e para as Câmaras e Juntas de Freguesia! Estou contudo algo apreensivo, pois com tantos feudos entrincheirados nas fortalezas das suas certezas e sem vontade de abrir as portas para sair e concentrar esforços na construção da sociedade, receio que muito em breve tenhamos que "baralhar e dar de novo". É certo que estamos treinados, mas podíamos juntar o melhor das nossas propostas e começar a construir com o olhar fixo pelo menos no "depois de amanhã"! Quando terminam as eleições cada força política não fica dona dos eleitores que nela votaram, mas passa a ser propocionalmente responsável pelo sucesso das propostas aprovadas pelo maior números de votantes. Confrontem-se as ideias, discutam-se os programas, mas por favor ponham-se os interesses globais em primeiro plano, subordinem-se os interesses grupais aos interesses gerais. O tempo urge e o adiar a aplicação do necessário remédio só agrava a doença e torna mais difícil, dolorosa e prolongada a necessária recuperação, já que a cura de doenças crónicas é normalmente uma miragem difícil de alcançar.

domingo, 16 de agosto de 2009

O grande encontro




Hoje dei por mim a pensar naquela passagem referida no cap.1º/45 do Evang. de S. João em que se diz que Filipe, após ter sido convidado a seguir com Jesus, encontrou Natanael, o qual mesmo não atribuindo muita relevância ao encontro, aceitou ser apresentado a Jesus. Ora acontece que Jesus cumprimenta o céptico Natanael com um rasgado elogio: "eis um israelita autêntico, em quem não há fingimento". Ser recebido com um elogio é sempre meio caminho andado para iniciar uma relação cordial e construtiva. Este Jesus sabia mesmo de psicologia!. Vem isto a propósito de que fui ontem ao funeral dum amigo que ao longo do tempo sempre se assumiu como agnóstico, pois achava que era demasiada ousadia afirmar-se ateu. Era reconhecido como um homem bom por aqueles com quem se relacionava. Respeitando a sua maneira de ser e não acreditar, mais não me restou que, em diálogo silencioso, apresentá-lo a Jesus, lembrando-Lhe que, como Ele afirmara, "na casa do Pai existem muitas moradas"e pedindo-Lhe que o acolhece com a simpatia com que acolheu Natanael. Aliás ao longo da vida tenho solicitado um número significativo destes encontros, os quais sempre deixam em mim um rasto de confiança de que serão sempre encontros de verdadeira descoberta e de sucesso. Imagino uma imensa cidade habitada por muitas e variadas gentes: a comunidade dos ex-ateus, a comunidade dos ex-agnósticos, a comunidade dos cristãos, a comunidade dos judeus, a comunidade dos muçulmanos, a comunidade dos hindús, a comunidade dos budistas e muitos mais. No centro dessa imensa cidade há uma não menos imensa e grandiosa praça central para a qual converge toda a cidade e onde todos os seus habitantes se reunem sem medo, engalanados com o colorido das suas diferenças, para a permanente festa da Vida. Não há mais noite, nem necessidade de outra luz que aquela que brota do Sol da Vida. A aclamação, a acção de graças, o louvor, a alegria de viver, a festa enchem a nova cidade de DEUS e da HUMANIDADE. E porque a Vida e a Amizade são intemporais, até sempre companheiros e companheiras de jornada!.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A arte de fazer rir



Passar pela vida assumindo, de forma bem conseguida, como grande função fazer rir os demais é certamente um privilégio de que poucos se podem gabar, sobretudo quando essa maneira de ser e de estar é acolhida e correspondida pela comunidade humana na qual se está inserido. Descobrir o lado lúdico das coisas, das pessoas, dos acontecimentos, dos sucessos e das frustações e partilhá-lo de forma simples, respeitadora e em linguagem não ofensiva nem deprimente, é uma forma de libertar as pessoas do lado sombrio que acompanha sempre cada intervenção humana por mais rotineira, episódica, ou surpreendente que ela seja. Raul Solnado passou décadas da sua vida temporal fazendo rir as pessoas, brincando com o lado lúdico da vida, dizendo humorìsticamente na praça pública que afinal o "rei ía nú" e que não havia tecido suficiente para cobrir tanta nudez. Muitas vezes o ouvi cantar: "português ou mal-me-quer, em que terra foste semeado; português ou mal-me-quer, cada vez andas mais desfolhado". Parece que estou a ouvi-lo do lado de lá da fronteira do tempo e do espaço, onde já ninguém "desfolha"o seu igual, dizer com o seu sorriso feito de sátira, de malícia amável e de mistério infantil: "façam favor de ser felizes!". Aqui deixo a minha homenagem ao homem que foi a expressão do sentir comum do "zé povinho português"que, no meio das dificuldades da vida, lá vai resistindo e dizendo: "tristezas não pagam dívidas", "pobrete mas alegrete"!.


terça-feira, 21 de julho de 2009

Nascer e renascer






Uma das experiências gratificantes que nos últimos tempos me foi dado saborear foi a que resultou dos diálogos que mantive com um número significativo de pais que pediam à Comunidade Cristã Católica o Baptismo para os seus filhos recém-nascidos ou ainda crianças. O encanto, a expectativa e a alegria com que aqueles pais se apresentam dizendo: "temos um filho e queremos baptizá-lo"só não cativa quem se deixou cristalizar pela rotina dos gestos e pela repetição das palavras. É certo que não raro os motivos que levavam esses pais a pedir o Baptismo para seus filhos podiam ser considerados de pouco esclarecidos e um tanto superficiais, mas estes eram sempre para eles suficientemente válidos para os levarem a fazer tal pedido. A verdade é que, quer queiramos admiti-lo quer não, a nossa vida é comandada mais pela intuição e pela afectividade do que pela razão. Na melhor das hipóteses conseguimos decisões esclarecidas e estes pais ao sentirem-se bem acolhidos fácilmente aceitavam o diálogo esclarecedor das suas motivações mais sérias e mais substanciais. Concluí que na medida em que conseguisse manter uma atitude de disponibilidade, de gratuidade, de acolhimento e de diálogo esses pais estavam normalmente abertos para aprofundar as suas motivações, esclarecer a sua decisão e aceitar o desafio dos compromissos inerentes ao seu pedido.
Por ter concluído que esta experiência e a partilha de alguma reflexão sobre este tema podem ser úteis a alguém (pais e ou padrinhos) que esteja confrontado com a decisão de baptizar um filho ou um afilhado, aceitei alinhavar umas quantas ideias que sem pressa vão ser vertidas nesta mensagem.
Apontamentos prévios

1º Apontamento - Uma criança nasceu e um filho nos foi dado.

O nascimento duma criança, quer tenha sido livre e responsavelmente procurado, quer simplesmente aceite, é sempre um acontecimento que diz respeito aos pais, aos familiares, à sociedade e à comunidade cristã local. Acolhimento, protecção, inserção, desenvolvimento, sentido de vida, são realidades a que quem nasce tem direito inalienável. É pois natural que quando uma criança nasce nos seus pais brotem um conjunto complexo de sentimentos: "que futuro?", "que alterações na nossa forma de viver?", "que projecto educacional?","que sentido de vida?", "que visão da existência?". A sensação da fragilidade, do encantamento, da dependência, da transcendência da vida, é tão profunda que mobiliza os pais para a doação sem limites, para a disponibilidade total. É pois normal que esses pais se questionem, se alegrem, apresentem o seu filho aos familiares e amigos e procurem o sentido transcendente da existência. E tudo isto para além da responsabilidade de dar satisfação às necessidades primárias da existência: alimentação, protecção, habitação, saúde, aprendizagens... Quando uma criança nasce significa que ela já viveu com o mínimo de sucesso a primeira fase da sua existência evolutiva e que inicia uma segunda fase de crescimento e afirmação pessoal enquadrada pelo tempo e pelo espaço, a caminho duma terceira nova forma de viver que se projecta para além da fronteira da espaço-temporalidade. Podem os pais não conseguir equacionar esta visão integrada da existência humana, mas ela está subjacente e activa quando eles de forma simples dizem: "temos um filho, estamos felizes, queremos festejar, reunir os nossos familiares e amigos e baptizá-lo". Louvados , acolhidos e respeitados sejam estes pais!

2º Apontamento - Um projecto de vida

É uma vulgaridade afirmar que o ser humano é um projecto sempre em construção, sempre a descobrir e sempre a re-inventar. Isto é verdade tanto na dimensão colectiva, como na dimensão individual. Assim é normal que seja interessante ajudar os pais a pensarem sobre que sentido de vida querem ajudar os seus filhos a descobrir, que perspectiva de existência lhes querem oferecer, que projecto educacional vão implementar. Certamente que não sabemos com certeza qual o melhor caminho a percorrer, mas se não soubermos em que direcção queremos seguir muito dificilmente atingiremos com sucesso o local da chegada. Ao falar de projecto educacional teremos de equacionar com clareza o conjunto de valores estruturais que os pais têm de vivencialmente transmitir aos seus filhos, a saber: a) - Vida - Amar a vida, gostar de viver, respeitar e promover a vida, agradecer a vida, cultivar o optimismo existencial e a perspectiva da valorização da existência, é sem dúvida progredir no caminho da felicidade sempre procurada, tendencialmente experienciada e persistentemente construída. Ter a ousadia de querer ser feliz. b) -Pessoa humana - A pessoa humana é sem qualquer sombra de dúvida o valor supremo ao qual devem ser subordinados todos os demais. Este pilar deve ser fortalecido pois facilmente se destróiem pessoas em troca duma qualquer conveniência. Ajudar alguém a querer-se bem, a crescer em auto - estima, a ter a ousadia de não ficar anã, a ter a coragem de não desistir de ser feliz, a gerir a sua existência com visão de futuro, é certamente um dos grandes desafios a que os pais jamais poderão renunciar. c) - Liberdade / responsabilidade - Embora seja normal afirmar que todo o ser humano nasce livre, sou levado a dizer que o ser humano é alguém com capacidade para, na relação com os outros, aprender a ser livre. Crescer em liberdade passa pela afirmação da pessoa face à multiplicidade das sedutoras dependências propostas, as quais, não raro, são sinónimo de demissão, de fuga e de grave irresponsabilidade. Ajudar a aprender a ser livre e responsável é uma tarefa delicada, continuada e por vezes cheia de interrogações. Não somos livres só porque escolhemos, mas porque escolhemos de forma esclarecida e responsável. d) - Verdade / coerência - A procura da verdade que vislumbramos e nos seduz como uma proposta que segue à nossa frente com a frescura de novidade aliciante , é uma das atitudes mais nobres e afirmativas do ser humano. Caminhar e progredir na descoberta da verdade é crescer como pessoa, desistir da descoberta da verdade é resignar-se à morte lenta e a cristalizar como granito da serra. Contudo o ser humano afirma-se pelo grau de coerência de vida com a parcela de verdade já percebida. Verdade e coerência andam de mãos dadas e sei que sou verdadeiro quando e na medida em que sou coerente com a verdade por mim já percepcionada. Ninguém é possuidor da Verdade, mas podemos progredir no processo de abertura diligente à Verdade. Transmitir o desejo de procura da verdade e a urgência da coerência é um processo exigente, que requer inteligência, humildade, actualização de conhecimentos, compreensão e um constante desejo de superação.

Alguns notáveis pedagogos continuam a afirmar que só se consegue implementar um projecto educacional com muito amor e disciplina (amor manifestado e reconhecido; disciplina coerente e esclarecida) e que toda a preocupação irá no sentido de ajudar cada criança a ser um bom engenheiro de ideias, um bom gestor de afectos e um bem iniciado na arte de pensar. Importa igualmente não perder de vista que por altura dos três anos o cérebro humano está numa fase adiantada da sua formação e que por altura da puberdade já está formada a estrutura da personalidade. São pois preciosos, condicionantes, ou fonte de potencialidades, os primeiros doze anos da vida de cada ser humano. Construir uma pessoa é certamente o grande desafio e a gigantesca proposta que os pais aceitam como a grande tarefa da sua existência.

A caminho do Baptismo

O pedido do Baptismo - Quando os pais, ou o (os) responsáveis pela educação, duma criança assumem a decisão de a baptizar devem, antes de marcarem uma data ou de convidar os padrinhos, dirigir-se à paróquia da sua actual residência e estabelecer contacto com responsáveis desta mesma comunidade paroquial. Aí comunicarão a sua intenção de que aquela criança venha a ser baptizada, bem como a paróquia onde desejam que tal aconteça. Neste primeiro contacto serão informados sobre os primeiros passos a dar, sobre a apresentação oficial do pedido dos pais e da sua aceitação pelo responsável pela Comunidade Cristã, sobre os critérios para a escolha dos padrinhos, sobre a formação e preparação dos pais e dos padrinhos, sobre o possível local, hora e data da efectivação do Baptismo, etc.

O que os pais devem ter presente antes de pedirem o baptismo para os seus filhos ainda crianças - Antes mesmo de se dirigirem à comunidade paroquial local, para falarem e tratarem do baptismo, os pais devem ter presente nomeadamente o seguinte: a) ter consciência das razões que os levam a desejar que o seu filho seja baptizado; b) assumir a responsabilidade de cuidarem tanto da sua formação e educação humana como cristã.

Acerca dos critérios a ter presentes ao pensar nas pessoas que poderão vir a ser escolhidas para padrinhos. Ao falar de padrinhos de baptismo importa ter muito presente que enquanto os pais não se escolhem, mas se aceitam, os padrinhos são escolhidos pelos pais em diálogo com a Comunidade Cristã na qual a criança vai ser integrada. Logo os padrinhos serão pessoas em que tanto os pais como a Comunidade Cristã possam confiar, no que diz respeito a serem garantia de que aquela criança vai ser formada e educada com os ensinamentos e perspectiva cristã da vida. A não ser assim será preferível prescindir de padrinhos.

A Comunidade Cristã Católica apresenta a seguinte orientação: os pais devem escolher para padrinhos pessoas que pelo menos tenham completado a sua iniciação cristã, tendo recebido os sacramentos do baptismo, da confirmação e da eucaristia, com a idade mínima de 16 anos, com sólida formação cristã, capazes de colaborar activamente na formação humana e cristã daquela criança. Sendo casados, o sejam na Igreja Católica; sendo solteiros, não vivam em qualquer situação que a Igreja, mesmo respeitando, não pode aceitar; haja, quanto possível, um padrinho e uma madrinha, ou então um só padrinho ou uma só madrinha.

Caso por qualquer motivo não possa ser encontrado padrinho e ou madrinha conformes a orientação responsável da Igreja, haja uma ou duas testemunhas "especialmente escolhidas"que possam comprovar ao longo da vida da criança a efectivação do seu baptismo, podendo assumir na relação com a criança o importante papel de padrinho ou madrinha "afectivos". E não se diga que a Igreja nesta matéria está sendo muito exigente, pois tal será provàvelmente o primeiro indicativo de que se encontram descentralizados do principal e privilegiam o acessório.

Preparação para o Baptismo - A improvisação é normalmente sinónimo de pouco interesse naquilo que vai acontecer, ausência de compromisso responsável, muitas vezes ignorância do significado dos gestos e das palavras e não raro repetição de cerimónias e hábitos tradicionais, cuja transcendência escapa, ou envolve como uma névoa mais de cariz supersticioso, do que como uma luz que ilumina e dá sentido à existência. Felizes as crianças cujos pais souberem transmitir-lhes sinais, gestos, atitudes, linguagens, conhecimentos, celebrações da vida e da fé coerentes, de forma inteligente, esclarecida e em tempo oportuno. Uma especial saudação para os pais e padrinhos que valorizam de forma interessada e responsável a preparação cuidada do baptismo de seus filhos ou afilhados.

A reflexão ou preparação dos pais e dos padrinhos para o baptismo duma criança tem como primeiros e fundamentais objectivos ajudar a que estes, de forma consciente e responsável, possam assumir perante eles próprios, perante os seus familiares e amigos, perante a sociedade, perante a Comunidade Cristã e perante Deus, três grandes e solenes proclamações:

1ª)- proclamação solene do compromisso de educar responsàvelmente aquela criança, tanto desde a perspectiva humana, como da perspectiva da Fé Cristã. Educar passa pelo ensinar e pelo ensinar a viver. Conhecimento e vida, ou aprender vivendo as aprendisagens, é a única metodologia educacional com hipótese de sucesso. Sem este compromisso não faz sentido baptizar uma criança.

2ª)- proclamação da inserção oficial da criança na Comunidade Cristã, a qual tem como objectivos centrais e fundamentais os seguintes: a) proclamar, em cada momento da História de cada pessoa e da humanidade, o louvor de Deus e dar-Lhe graças (louvamos a Deus por Ele ser Aquele que É, e damos-Lhe graças por Lhe podermos dar graças); b) anunciar, em linguagem compreensível para cada momento histórico, que a vida de cada pessoa tem valor, sentido e futuro, que a pessoa é o único valor sagrado que existe nesta nossa casa comum, que sem liberdade não há espaço para a pessoa se afirmar como ser humano e sem a constante procura da verdade a pessoa não cresce; c) denunciar, de forma clara, corajosa, oportuna e continuada, todas as situações de atropelo à vida, de menorização da pessoa humana , de coerção abusiva da liberdade e de ocultação ou manipulação da verdade; d) ser a animadora dum compromisso acrescido de empenhamento dos seus membros na construção da sociedade, de forma que esta se aproxime sempre mais daquele paradigma a que chamamos "Reino de Deus", o qual tem como referências a justiça , o amor, a verdade e a paz.

3ª)- proclamação solene da Fé. A criança é baptizada na fé da Comunidade Cristã proclamada pelos pais e pelos padrinhos. Sem a proclamação do sentido transcendente da vida de toda a pessoa e de cada pessoa; sem a confissão da fé em Deus ( Pai, Filho e Espírito Santo); sem o reconhecimento explícito de que Jesus Cristo é o Filho de Deus e o Filho do Homem; sem a descoberta e aceitação de que Deus continua actuando na História através do Espírito Santo; sem a abertura à dimensão da eternidade e da ressurreição individual e colectiva, não há Baptismo.

Qualquer celebração litúrgica é uma acção constituída por gestos simbólicos, palavras significativas e utilização de materiais da vida corrente que servem de suporte à efectivação da celebração. É fundamental conhecer o sentido dos gestos, o significado das palavras e a mensagem bíblica e litúrgica transportada por cada elemento material utilizado. Só assim aquela diversidade de linguagens poderá ser acolhida, aceite e transformada em respostas pessoais conscientemente assumidas.

Na celebração do Baptismo são utilizados três elementos materiais de uso corrente e familiar: um fundamental, que é a água e dois acessórios, que são o óleo (mistura de azeite e bálsamo) e a luz (vela de cera). Importa pois que nos sensibilizemos ao significado do uso da água, do óleo e da luz no contexto baptismal. A água baptismal é portadora dum conjunto extenso de significados bíblicos: a) vida - " O Espírito de Deus pairava sobre as águas e surge a vida em evolução continuada (das formas primárias até à forma de vida mais bela e bem sucedida que é a vida humana) Génesis 1/1-29; b) justiça - "Deus viu que Noé era justo na sua relação com Ele e na sua relação com os demais" (e surge uma nova humanidade vocacionada para a justiça) Génesis 7/1 ; c) liberdade/libertação individual e colectiva - "Eu vi a aflição do meu povo e decidi libertá-lo"(e um povo de escravos é libertado sob o comando de Moisés através da água do Mar das Canas) Êxodo 3/7-8; d) conversão - João Baptista baptizava na água do Jordão aqueles que aceitavam a mudança de mentalidades e de comportamentos - Lucas 3/1-14; e) opção pela pessoa humana - Jesus após o seu baptismo de água faz uma opção total pelo "ser" rejeitando o "ter" e o "poder"político e ou religioso - Mateus 3/13-4/1-15. O óleo santo lembra que na tradição bíblica ser ungido com o óleo santo era ser investido numa especial missão de serviço a favor do povo de Deus ( missão de governar, missão sacerdotal e missão profética) e importa ter presente que este óleo foi benzido pelo Bispo da Diocese na manhã de Quinta- Feira Santa e na tarde desse mesmo dia entregue ás Comunidades Cristãs de base paroquial. A luz reporta para a grande celebração da Vigília Pascal, a qual se inicia com a bênção da luz e do círio pascal e uma vez aceso se apresenta à Comunidade Cristã como a luz de Cristo Ressuscitado que ilumina todo o ser humano (o de ontem, o de hoje e o de amanhã).

No início, durante ou no fim da preparação será aconselhável que seja facultado aos pais e aos padrinhos um exemplar do ritual do baptismo, a fim de que possam mais fàcilmente em suas casas recordar o que foi falado no encontro e melhor se prepararem para a celebração (escolha das leituras, dos leitores, das intenções da oração universal...).

A celebração do Baptismo

No dia e hora acordados os pais, (com a criança que vai ser baptizada), os padrinhos, os familiares e alguns amigos, dirigem-se ao local onde se vai realizar o baptismo. A comunidade cristã e humana de base familiar dirige-se ao templo, local de culto da Comunidade Cristã de base paroquial, onde é recebida pelo celebrante, como especial representante da Comunidade Cristã Católica e que dará início à celebração.

Evoluir da Celebração

1 - Diálogo inicial

Os pais apresentam o seu filho ou filha pelo seu nome (é a afirmação da pessoa humana).

Os pais pedem à Igreja de Deus o baptismo de seu filho ou de sua filha.

Os pais assumem o compromisso de educar na fé o seu filho ou a sua filha.

Os padrinhos, se existirem como é normal, associam-se ao compromisso dos pais.

A criança é recebida na Comunidade Cristã e assinalada com o sinal da cruz de Jesus Ressuscitado. O celebrante, em nome da Comunidade Cristã, os pais e os padrinhos, realizam sobre a fronte da criança o mesmo gesto de bênção e de sinal de Jesus morto e ressuscitado ( o sinal da Cruz).

2 - Celebração da Palavra

Exemplos de leituras bíblicas que podem ser feitas ao procurar-se uma visão séria, profunda e alargada do sentido do Baptismo: Ezequiel 36/24-38 (sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus); Romanos 6/3-5 (fomos baptizados em Jesus Cristo); 1ª Coríntios 12/12-14 (fomos baptizados num só Espírito); Gálatas 3/26-29 (vós sois filhos de Deus); Efésios 4/1-6 (há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo); 1ªPedro 2/4-5;9-10 (vós sois povo adquirido por Deus); Marcos 1/9-11 (tu és o meu filho muito amado); Marcos 10/ 13-16 ( não estorveis as criancinhas); João 3/1-6 (quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus); João 4/5-14 (a água que Eu der tornar-se-á nele uma nascente que jorra para a vida eterna). E por configurar o mandato de anunciar e baptizar, se transcreve o final de S. Mateus: "Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que vos mandei. Eu estarei convosco todos os dias até ao fim do mundo"(Mateus 28/18-20). Reconheçam pois os pais e toda a Comunidade Cristã: que Jesus é o único Senhor do universo; que a Ele adiram como único critério de verdade; que aquela criança é baptizada em nome do Pai , do Filho e do Espírito Santo; que se comprometem a ensinar e a ensinar a viver o mandamemto do Senhor (amai-vos uns aos outros como Eu vos amei); e que saibam, com certeza firme, que o Senhor Deus estará com eles em cada momento da sua existência e da existência daquela criança. O medo e a solidão não serão companheiros inseparáveis na marcha da vida. Feliz a criança cujos pais ascenderem à dimensão de pessoas adultas na sua vivência humana e cristã.

3 - As grandes opções

Não podemos avançar no sentido afirmativo da nossa existência sem a preocupação de coerência com as nossas opções. Não assumir opções sérias e exigentes é remeter-se à triste e paralisante mediocridade de uma vida sem brilho e sem cor. Assim é coerente que os pais, em primeiro plano, afirmem as grandes opções que assumem e se comprometem a ajudar a criança a descobrir, como orientadoras do seu agir: a) assumir a responsabilidade de ser livre; b) progredir no sentido não do mais fácil e sedutor, mas da afirmação libertadora; c) procura diligente da verdade e renúncia séria e sistemática à mentira descarada, ou disfarçada com verniz de modernidade e de sucesso fácil; d) optar decididamente pelo ser face ao ter e ao poder.

4 - Profissão solene da fé

A decisão final para que se concretize o baptismo duma criança assenta, como é óbvio, sobre a fé da Igreja proclamada nomeadamente pelos pais e pelos padrinhos: credes em Deus? aceitais e aderis a Jesus Cristo morto e ressuscitado? acreditais na ressurreição individual e universal? acreditais que Deus actua na História e em cada pessoa através do Espírito Santo? acreditais que a Igreja Católica é portadora da Mensagem de Jesus Cristo e da Sua acção sacramental e visível no tempo a caminho da eternidade? "Quereis, portanto que N. receba o Baptismo na fé da Igreja, que todos convosco acabámos de professar"? Pais preparai-vos para reassumirdes o vosso próprio baptismo e para a vossa actual, adulta e solene profissão de fé! O vosso (a) filho (a) oferece-vos esta oportunidade única!

5 - O Baptismo da água e do Espírito

Os pais levando o seu filho (a sua filha) dirigem-se para junto da água baptismal, debruçam a criança sobre a mesma, os padrinhos que os acompanham colocam a mão direita nas costas do (da) seu (a) afilhado (a) e após ouvida a sua decisão final, ele (ela) é baptizada: "N. eu te baptizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".

A simplicidade da acção de Deus surpreende por vezes a necessidade humana do grandioso e do espectacular!

6 - A unção dos filhos e das filhas de Deus

A criança é ungida duas vezes, uma antes do baptismo e outra após o baptismo. A primeira unção é feita no peito para que o poder de Cristo a fortaleça. A segunda unção é feita na fronte como sinal (crisma) de salvação, para que possa vir a assumir de forma adulta e responsável o seu lugar na sociedade e no Povo de Deus, o qual é uma comunidade de homens e mulheres que assumem na História uma função sacralizante, uma função de animadora da esperança e uma função de dignificação da pessoa humana.

7 - A entrega da luz


O pai toma na vela (na qual poderá estar gravado o nome da criança e a data do baptismo) e vai recolher a luz no Círio Pascal, que foi aceso no início da celebração e reporta para a grande celebração da Vigília Pascal em que a sua luz foi apresentada como a luz de Cristo Ressuscitado que ilumina a História Humana.

A vela acesa é entregue à criança e sustentada conjuntamente pela mão direita da criança, dos pais e dos padrinhos.

Recebe a luz de Cristo! Vive como filho (a) da luz! A vós, pais e padrinhos se confia o encargo de velar por esta luz!

8 - Aprender a viver como filho (a) da luz

O baptismo aconteceu, os pais baptizaram o (a) seu (sua) filho (a), esta criança é reconhecida e aceite como filha adoptiva de Deus, faz parte de pleno direito da Comunidade Cristã, vai iniciar um processo de crescimento que a leve, a seu tempo, a dar continuidade à sua iniciação cristã através da participação na Eucaristia e da recepção do sacramento da Confirmação.

Tendo como referência o altar, sinal e convite ao encontro dos baptizados e mesa da celebração do Memorial da Morte e Ressurreição do Senhor Jesus, é rezada a grande, abrangente e universal oração que o Senhor ensinou: o Pai Nosso.

Importa agora, de forma clara, afirmar que rezar é certamente a expressão mais adulta, realizadora e libertadora do homem e da mulher de fé. Rezar é diálogo, é sintonia, é comunicação, é encontro, é partilha, é harmonização, é pacificação, é revitalização do ser humano que se ergue dos seus limites, da sua precariedade e parte ao encontro do Transcendente, do sentido mais abrangente e profundo da sua existência, do Deus de Jesus Cristo. Sem quaisquer preconceitos importa perceber que, para o homem e a mulher de fé, rezar é natural, como natural é respirar. Se conseguirmos e na medida em que o conseguirmos, disponibilizarmo-nos para Deus, faremos certamente a experiência mais profunda e mobilizadora que o ser humano pode realizar.

9 - Despedida com final venturoso

Qualquer encontro bem sucedido termina sempre com alguns gestos e palavras de simpatia, de bem-querer, de cordialidade, de votos de re-encontro. A ternura não pode estar ausente, pois ela é o ingrediente afectivo que dá sabor á vida, ás relações humanas e a qualquer processo de entre-ajuda libertadora. Sem ternura mesmo a melhor intervenção humana deixa um sabor algo amargo.

Bênção da mãe - Que a alegria e a esperança abrilhantem a vida desta mãe! Que ela seja uma bênção para a sua família! Que ela viva em permanente atitude de acção de graças! Que ela seja aclamada e reconhecida na grandeza da sua vida preenchida de gestos simples, rotineiros, persistentes e gratuitos!.

Bênção do pai - Que este pai seja portador do sentido da vida! Que seja para seu filho (a) a primeira referência do que é ser uma pessoa adulta, esclarecida e amante da justiça e da verdade ! Que ele, juntamente com a esposa, possam ser esperança de realização afectiva e de testemunho de vida iluminada pela luminosa mensagem do Senhor Jesus!.

Bênção dos padrinhos - Que os padrinhos desta criança sejam para ela referência positiva! Que esta criança sinta orgulho por ter estes padrinhos! Que eles sejam ao longo da vida desta criança a memória viva do seu Baptismo!.

Bênção dos familiares e amigos - Que todos os familiares e amigos presentes se alegrem com a sua participação no baptismo desta criança, sejam apoio e entre-ajuda para os seus pais, colaborem à sua maneira no projecto educacional e vivam na paz que Deus dá àqueles que de coração sincero o procuram!.

Últimas sugestões:

- Podem os pais ou os padrinhos, providenciar como recordação uma medalha (em ouro ou em prata) com a imagem evocativa da Mãe de Jesus, na qual mandaram gravar o nome de seu filho ou filha e a data do baptismo. Esta medalha será benzida pelo celebrante no final do baptismo, evocando a protecção divina para aquele (a) para quem ela será sinal de esperança, memória e certeza da acção de Deus em seu favor.

- Podem os pais no final do baptismo dirigir-se até junto duma imagem evocativa da Mãe de Jesus e apresentarem a Maria o seu filho ou filha, pedindo-lhe no silêncio dos seus corações a sua ajuda na implementação do processo educacional e a sua bênção. Caso os pais já tenham mais filhos podem associá-los a este gesto.

- Podem (e devem) os pais de seguida saudarem-se um ao outro, beijar o seu filho ou filha, dá-lo (a) a beijar aos padrinhos e aos irmãos (se existirem) e de seguida apresentá-lo ao celebrante, aos avós e demais familiares e amigos.

- Os padrinhos registarão em letra bem gravada na sua memória a data do baptismo de seu afilhado ou afilhada. Serão para ele ou ela a memória viva do seu baptismo. Honrarão o parentesco espiritual que contraíram. Assinalarão ao longo dos tempos aquele aniversário significando ao seu afilhado ou afilhada o quanto os honra ser seu padrinho ou madrinha e testemunhando assim a sua amizade consistente e firmada sobre o firme apoio que é Jesus Cristo.

- Felizmente ainda não perdemos o sentido da festa na vida, por isso, da forma possível, reúnam-se as pessoas, celebrem, partilhem a esperança, a alegria de viver, a amizade, os bens materiais e os valores humanos e cristãos. É preciso manter e cultivar o sentido da festa na vida!.

Felizes os pais que não se deixam vulgarizar pela rotina da tradição, pelo socialmente correcto, pela repetição de gestos e costumes cujo significado e alcance lhes escapam! Felizes os filhos cujos pais são para eles ao longo da vida referência inspiradora da procura do sentido profundo da vida!.

domingo, 5 de julho de 2009

Desporto na lama





Lá para as bandas de S. Bento situa-se agora a sede do escárnio e do mal dizer. Lamento, pois se trata duma zona nobre da cidade e do País. É mesmo para lamentar. Já não me lembro da última vez que na grande arena alguém falou bem de alguém. Não é de admirar que as nossas gentes andem por aí vagabundeando ao sabor dos ventos que sopram da direita , da esquerda, da meia esquerda, da meia direita, da extrema direita , da extrema esquerda, da frente norte, da frente sul, do centro e do centrão. Com tanta poeira no ar é difícil ver para além de dois ou três palmos à frente do nariz. E pensar eu que também dou o meu contributo para que esta escola de desaprendisagem da boa educação, da maledicência, da linguagem brejeira, dos gestos ponteagudos, se reclame da legítima representante do Povo Português! Que aconteceria se os debates parlamentares fossem transmitidos em todas as escolas do País, para que educadores e educandos bebessem dessa grande fonte de águas cristalinas, despoluidas e refrescantes ? Ficariam todos um pouco mais lavados , ou ao invés escassearia o sabão necessário para lavar tanta nódoa? É certo que não há más pessoas e passado o frenesim do futebol na lama vai-se ao balneário comunitário e regressa-se ao retempero das energias para disputar o novo confronto anunciado, pois a lama é tanta que haverá sempre um próximo jogo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sol de Verão






Às vezes um simples telefonema é suficiente para reaviar a amizade e trazer ao presente o muito de gratificante que a vida nos proporcionou e a que o pó do caminho vai por vezes tirando o seu brilho. Hoje recebi um desses telefonemas . Obrigado Ana por teres telefonado.
Com menos pompa e circunstância chega ao fim o ciclo dos festejos em honra dos Santos Populares. Como apesar de tudo temos necessidade de nos divertirmos um pouco e de fazermos figas às várias epidemias que a todos atormentam, vamos sentir falta de poder brincar e fazer alguns disparates à conta de Santo António, de S. João Baptista e de S.Pedro. No final dos festejos gostava de pedir ao S. António que avisasse os peixes miudos para estarem atentos pois existem demasiados tubarões por perto, nomeadamente na baía portucalense nascente, na baía portucalense poente e na baía central portucalense. Ao S. João Baptista convidava-o a regressar ao deserto, pois se persiste em andar para aí a pregar a mudança de comportamentos e de mentalidades, corre o risco de ser outra vez decapitado. E finalmente meu bom S. Pedro não te esqueças que apesar de toda a tua energia e fogosidade preferiste salvar a pele quando confrontado com o poder instituido, sendo que o medo foi mais forte que a amizade do Grande Amigo, por isso usa as chaves para abrir portas a todos quantos andam para aí um tanto ou quanto tresmalhados e não te preocupes se a tua cadeira é de ouro e marfim ou de um vulgar e carunchoso pau de pinho.