domingo, 25 de abril de 2010

liturgias


O dia de hoje está sendo abundante em liturgias, quer se trate da liturgia religiosa, quer de liturgias sócio-políticas. A liturgia religiosa evoca a figura de Cristo Ressuscitado e através da imagem do Bom Pastor reconhece-O como Aquele que lidera não através da afirmação do poder e da força, mas através duma efectiva atitude de serviço para com todos, com uma especial atenção aos mais fracos, vulneráveis e menos integrados na Comunidade que O reconhece. Esta imagem do Bom Pastor e da sua relação com a Comunidade aparece plasmada no Capítulo 10º do evangelho de João. Aí se faz o contraponto entre um bom pastor, um mercenário e um ladrão: aquele defende, conhece e promove o bem-estar de todos os membros da Comunidade; estes matam, tosquiam, exploram e abandonam sempre que chega o tempo da dificuldade. O que causa algum embaraço é que apenas é proposto um Bom-Pastor: Cristo. Tal significa que todos quantos se apresentarem ou se deixarem aclamar como pastores têm de ser olhados com reserva pois é certo e sabido que estamos perante mercenários, ladrões, ou lobos, mesmo quando vestidos com suaves peles de cordeiro. Por mim adiro a Jesus Ressuscitado como o único Senhor e não contem comigo para queimar incenso perante qualquer outro poder. Assim canto neste dia o meu hino à liberdade.
Também hoje se comemora o 36º aniversário do 25 de Abril. A principal comemoração ocorreu e bem, na Assembleia da Répública. Foi uma liturgia bem preparada e conseguida, em que, através da linguagem das palavras, dos símbolos, dos gestos, da disposição dos espaços, das mensagens e da evocação do passado, se questionou o presente e procurou conseguir alguma convergência e empenhamento de abertura construtiva ao diferente que vem do futuro. As palavras chave são democracia, liberdade e desenvolvimento. Também aqui a liderança será uma liderança de serviço e tudo o mais será um covil de mercenários, de ladrões e de salteadores, mesmo utilizando as suaves e sedutoras palavras de liberdade, igualdade e fraternidade. Aqui expresso o meu aplauso e o meu apoio a todos quantos na diversidade das suas leituras e dos seus ângulos de análise procuram sem calculismos de ganhos políticos, de poder, ou de ganância investir em serviço do bem comum. Neste dia evoco a experiência única vivida há 36 anos, saúdo os actuais construtores da nova sociedade e sonho com todos quantos não desistiram de questionar o presente desde a prespectiva dum futuro de sucesso para o meu povo. De novo o meu hino à liberdade.

domingo, 11 de abril de 2010

a dúvida

A grande certeza é que as nossas certezas, mesmo aquelas que alicerçam o mais profundo das nossas convicções, se apresentam mescladas de luz e de sombra, de já mas ainda não, de descoberta e de procura, de encontro e desencontro. Viver entre a dúvida metódica e a certeza provisória é a única proposta que surge diante de quem caminha de rosto erguido, mas admitindo sempre que pode cair ou magoar-se nas pedras do caminho mais ou menos acidentado, mas nunca totalmente plano. As nossas pequenas certezas para terem alguma consistência têm de passar pelo crivo da experiência. Quem não vive não tem certezas de vida e quem não viu não pode ser testemunha credível do acontecimento. Hoje evoca-se a figura de S. Tomé, essa personagem que perante a certeza de todos teve a coragem de afirmar: "se não vir não acreditarei" e daí herdámos a expressão de "preciso de ver para crer".
A Assembleia da Répública aprovou o Orçamento de Estado para 2010 e disseram-nos que era um orçamento justo, responsável e de recuperação. Quero ver para crer.
Foi aprovado o PEC e disseram-nos que em 2013 a nossa economia estará mais robusta e as finanças públicas estarão equilibradas. Quero ver para crer.
Este fim de semana realizou-se o Congresso do PSD-PPD e afirma-se que vai dar-se início a um novo ciclo carecterizado pela responsabilidade política. Quero ver para crer.
Diz-se que os novos submarinos servem para andar na água e não para meter água. Quero ver para crer.
Afirma-se que a Justiça vai, por acção eficiente das múltiplas "comissões de inquérito", deixar de ser essa manta velha cheia de buracos. Quero ver para crer.
Defende-se que os arábicos salários de muitos gestores de empresas públicas, semi-públicas, e privadas são justos porque são legais. Não vejo nem consigo acreditar.

domingo, 4 de abril de 2010

nova fronteira




O dia que mais marcou a História Humana foi certamente aquele em que o ser humano se deu conta de que por mais que tentasse dominar a vida não era, nem é, o senhor da Vida. Pode destruir os viventes, mas não destrói a Vida. O Senhor da Vida respeita as, por vezes, irracionais e absurdas atitudes dos pequenos deuses, mas surge sempre como o Sol Nascente que se ergue iluminando e aquecendo as trevas geladas de muitos dos recantos da existência de cada humano. Hoje é dia de Páscoa. De forma mais consciente ou apenas intuitiva todos celebramos a Vida. Ninguém presenciou, nem podia presenciar, a ressurreição do Senhor da Vida a quem os humanos impuseram a experiência da morte, mas a certeza de que Cristo havia ressuscitado abriu a esperança de que os mortais, porque co-participantes como Cristo na vida humana, também seriam co-participantes na Sua Vida de Ressuscitado. As fronteiras do tempo, do espaço, da evolução, da degeneração, da transformação dolorosa, abrem-se para uma nova dimensão existencial e a porta de acesso é Jesus e Jesus Ressuscitado. Aderir a Ele é aderir a uma perspectiva de existência humana que transborda para lá dos limites da corporeidade, da física, da matemática e da história. Neste dia de magna celebração festiva brindo à Ressurreição de Cristo e ao futuro glorioso de todo e de cada ser humano que a Ele aderir, reconhecer e com Ele se abrir à nova dimensão da existência humana.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

absurdo


Esta semana é apelidada tradicionalmente de "semana maior". Esta designação deve-se não ao facto de ter mais dias de trabalho e em que portanto se produz mais, mas porque relembra o maior absurdo da História Humana. Em que se concretiza este absurdo? Precisamente nisto: aqueles que acreditam em Deus decidem em nome de Deus matar o próprio Deus e substitui-Lo por um simulacro encerrado nos limites da sua imaginação humana. Aqueles que defendem a lei, obra das suas mãos, a partir da aplicação cega dessa lei cometem a maior das injustiças: condenar o "Justo" porque não se conforma com o seu modelo de justiça. Assim morre o "Justo" e a sua morte clama pela urgência de leis que apontem para a libertação, para a justiça justa, para a promoção de toda a pessoa e para uma convergência harmoniosa dos vários valores.

Ontem garantiram-me, mais uma vez, que Alguém que marcou a nossa história e a nossa cultura, afirmou que se não aprendessemos a filosofia do serviço não descobriríamos o caminho da liberdade. Hoje fui confrontado com a tragédia da morte de Deus. Se Deus teve a incompreensível iniciativa de assumir a nossa História Humana teve de assumir as consequências dessa Sua decisão: a humanidade construíu leis e em nome dessas leis e de forma coerente julgou, condenou e cruxificou essa Iniciativa. Como sairemos deste círculo fechado? Criamos leis á nossa imagem e semelhança e em nome dessas leis justificamos a injustiça e todo o tipo de sufisticadas e eficazes estruturas de dependência. Resta-me aguardar que Deus surpreenda com nova iniciativa mais surpreendente e eficaz que a justiça humana.