domingo, 23 de dezembro de 2012

Boas Festas

 
 
O Natal de 2012 está à porta do tempo e no solar da entrada do espaço em que cada um se movimenta, existe e co-existe. Se quisermos o Natal existe como acontecimento envolvente, mas se não quisermos o Natal passa por nós, apesar da nossa impermeável rotina, com ar de sorriso amigo que nos saúda e interpela beliscando a nossa indiferença.
Desejar Boas-Festas pode ser vassalagem à rotina, mas a recusa a repetir nesta época natalícia uma palavra de "bem querer"é certamente erguer a bandeira do egoísmo. Por isso rompendo com a rotina e baixando o estandarte  da indiferença desejo aos que lerem esta mensagem e através destes a todos quantos se cruzarem nos seus caminhos, uns dias de esperança, de alegria e de serenidade que inspirem os passos que se vão seguir.
Aqui lanço, no espaço aberto e na dimensão do intemporal, os votos de Boas-Festas e de Feliz Natal e o desejo de que todos os meus concidadãos em particular e de todos os meus contemporâneos em geral, possam ser beneficiados pelo privilégio de pressentirem, cada qual à sua maneira, o sorriso de Jesus Menino em cada gesto de amizade e de ternura que oferecerem e em cada gesto de amizade e de ternura que receberem. Pelo menos neste Natal vamos fazer a experiência do "bem querer", da reconciliação e de olharmos os outros como se fossem mensageiros de paz e de justiça que se aproximam estendendo uma mão fraterna. Boas-Festas!
 

sábado, 8 de dezembro de 2012

Homenagem

 
 
Neste fim de tarde de 8 de Dezembro apraz-me prestar a minha homenagem Aquela que é muito justamente invocada como a Padroeira da nossa terra e do nosso povo. Estou convencido que, no meio das muitas e diversificadas tribulações dos tempos presentes, uma presença de Mãe é sempre um convite a unir esforços para vencermos as incertezas e angústias que nos atormentam. Não Lhe peço o  milagre da resolução das nossas dificuldades, mas confio que Ela está presente animando-nos no esforço para as vencer. Há que prestar homenagem Áquela que neste dia é muito justamente invocada como Nossa Senhora da Conceição.
 
 
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

aplauso

 
Perante a recente tempestade que se abateu sobre os concelhos de Lagoa e Silves e que atingiu pessoas e bens, foi profundamente gratificante verificar a prontidão com que muitas das suas gentes se mobilizaram para limpar, ajudar, reconstruir. Parabéns a essa gente anónima que com simplicidade e entusiasmo passaram da contemplação á acção. É possível com poucos meios e com convergência de acção ser eficiente em tempo útil, cultivando a solidariedade e expressando a satisfação da disponibilidade interventiva. Aplauso merecido!
 

sábado, 3 de novembro de 2012

cardos



De quando em vez dou por mim a trautear a canção do "malmequer" tantas vezes cantado pelo saudoso Raul Solenado:
                                      " português ou malmequer
                                         em que terra fostes semeado
                                         português ou malmequer
                                         cada vez andas mais desfolhado"
Pensava o sonhador Solenado que este jardim mal tratado ainda havia de dar flores que embelezassem as vidas dos lusitanos, mas, pasme- se, cada vez produz mais cardos. São tantos os espinhos a crescer que não sei como conseguir lavrar esta terra e semear uma nova seara.

domingo, 9 de setembro de 2012

a porta


Uma porta que se fecha pode ser uma oportunidade perdida e uma porta que se abre pode ser a perda duma desejada independência. Assim quando abrimos uma porta tanto podemos perder a nossa independência como promover a nossa libertação e quando fechamos a nossa porta tanto podemos protegermo-nos dum vendaval como correr o risco de ficarmos asfixiados.
Não basta pois abrir portas e fechar portas. Isso seria fácil e estaria ao alcance dum qualquer autómato. É preciso saber que portas abrir e que portas fechar, quando abrir e quando fechar, para quê abrir e para quê fechar.
Num tempo de intempérie como este em que vivemos todos nos queremos abrigar da tempestade de forma que cada um fique a salvo da tormenta. O problema é que cada um isoladamente não consegue subsistir sem ser arrastado pelo turbelinho da insegurança, nem ficar a salvo do desencanto.
Cada pacote de austeridade denunciada abre a porta a novo pacote de austeridade proclamada e cada sonho num auspicioso futuro vislumbrado, abre caminho a um pesadelo sempre mais traumatizante. Cresce a multidão dos deserdados da sorte, engrossam as fileiras dos depojados, reduz-se o número dos medianos que se preparam assustados para entrar no clube dos nus e esfarrapados. Por sobre a terra dos errantes, dos habitantes dos baldios e dos que vivem do quase nada esvoaça toda a espécie de aves de rapina.
Temos pobres a mais , desempregados a mais, demagogia a mais, previlégios a mais. cobardia a mais, concentração de riqueza a mais, deputados a mais, pseudo-politicos a mais, fortalezas a mais.
E pensar eu como foi possível que a irresponsabilidade acumulada de muitos que ainda se passeiam com ar trinfante e salvador pelas ruas das nossas cidades nos tenha conduzido a esta situação onde a lamúria e o desencanto são a normal forma de viver e de conviver!
Quando fomos formatados para ser cigarra é duro aprender a ser formiga.

domingo, 27 de maio de 2012

superação


Quando não somos capazes de ver para além do metro quadrado que transitoriamente ocupamos e quando a nossa intuição não nos projecta para além do tempo mais ou menos escasso em  que cada um  resiste á dinâmica do transitório, ficamos embrenhados num labirinto onde aquilo que parecia uma promissora saída nos introduz num ponto de partida do qual queríamos a todo o custo descolar.

Enfrentar o medo é uma tarefa difícil e que duma forma ou de outra  requer ousadia, risco de perda, superação da paralisia, desinstalação do nosso buraco e partida para o desconhecido. Pensar que estamos imunes ao medo é estultícia que só a mais profunda e por vezes inconsciente alienação pode suportar. Se tenho medo de enfrentar o futuro tento distrair-me com o esgotamento do presente, mas como o presente não é mais que um arroto, por vezes azedo, entre o antes e o depois, acabo por ir vivendo com um profundo , irritante e sintomático amargo de boca. Não consigo saborear a vida pois a confiança no futuro é o adoçante que ameniza o desconforto do presente.

Neste fim de semana em muitas localidades fazem-se festas em honra do Espírito Santo. Não somos capazes de definir Quem é o Espírito Santo, mas segundo os relatos que nos chegam a presença do Espírito Santo transformou o medo em ousadia, a ignorância em sabedoria, a perseguição em libertação, o acanhamento em desenvoltura e a desilusão em promessa de sucesso. É-nos referido que quando somos capazes de aceitar que Deus assume a nossa dimensão humana é Natal, que quando acreditamos que a dimensão humana é introduzida na dimensão divina é Páscoa e que quando nos deixamos conduzir  pela novidade que irradia dessa nova dimensão e que o presente não se esgota em si mesmo é  Pentecostes.

gratidão

Um dos sentimentos mais naturais, mas também mais dignificantes é sem dúvida o sentimento da gratidão. Quando alguém se cruza connosco e nos dá prioridade mesmo quando a não tinhamos, sentimo-nos gratos. Quando alguém nos acolhe sem nos repreender mesmo que tenha razão para tal, sentimo-nos gratos. Quando alguém nos estende a mão porque tropeçámos na pedra da calçada, sentimo-nos gratos. Quando alguém nos promove para além dos nossos méritos reais ou imaginados, sentimo-nos gratos. Quando alguém toma a iniciativa de nos ajudar a levar um fardo pesado, sentimo-nos gratos. Quando alguém nos distingue e não nos trata como um anónimo, sentimo-nos gratos. Quando alguém é nosso amigo, independentemente do tipo de relação que mantemos com ele, sentimo-nos gratos. Quando alguém se alegra com o nosso sucesso e sofre em silêncio com o nosso fracasso, sentimo-nos gratos.

A gratidão mantem-nos na rota do encontro com o outro e projecta-nos para fora de nós mesmos. Sentimos que não somos o centro do universo, mas que fazemos parte dum universo relacional onde o encontro é uma maneira de ser e de estar. Ninguém é só, niguém está só, ningém se realiza só, niguém quer viver só. Por isso a gratidão é uma forma superior de viver e de conviver.
Na passada quinta-feira a minha atenção reteve e ainda se não descolou, a informação transmitida pelo evangelista João no versículo 20º do capítulo 17 do seu evagelho: Jesus rezou por todos aqueles que ao longo da história iriam crer Nele. Como a sua relação é sempre uma relação pessoal e como a sua oração é a única eficaz, surgiu em mim um sentimento de gratidão que me acompanha e um sentimento de confiança que me anima.

domingo, 13 de maio de 2012

A Senhora da charneca

   
Neste dia 13 de Maio encontram-se reunidas numa antiga charneca, lá para os lados de Fátima, umas centenas de milhares de pessoas oriundas das mais diversas paragens. Umas querem ver, outras celebrar, mas todas se movimentam atraídas pela sua própria motivação. Esta concentração  a ocorrer no centro da nossa Lisboa faria esquecer qualquer outra manifestação das muitas a que vamos assistindo e que chamam muito justamente a nossa atenção para a diversidade dos problemas que questionam a nossa sociedade. Já não falo dos estádios da nossa cidade que se enchem para verem extasiados 22 rapazes, vigiados por uns inspectores chamados árbitros, a correr atrás duma bola para ver quem a consegue encaixar nuns espaços chamados balizas.

Mas o que aconteceu lá na charneca que atrai, como se dum íman se trate, tanta gente que se entusiasma por chegar, se alegra com o estar e depois recorda com saudade a experiência de ter pisado aquelas paragens? Alienação! responderão os pseudo-racionais. Ignorância! responderão os pseudo-omniscientes. Sub- desenvolvimento! responderão os que se assumem como as primícias da nova sociedade. Turismo! responderão os que desconhecem a sua terra, mas vão apreciar umas quaisquer Berlengas situadas no outro lado do planeta.

O curioso é que perante tal multidão ficamos pensativos, cheios de perguntas, com a sensação de quem se quer encontrar e o pressentimento de que algo nos atrai e nos interpela. Ser seduzido pelo invisível e caminhar sentindo a terra que pisamos é uma experiência que nos orienta lá para as bandas do Sol Nascente que já ilumina o nosso hoje, mas que anuncia o nosso amanhã.

Algo de inteiramente novo e diferente aconteceu e acontece naquela charneca que duma maneira ou outra nos seduz e nos faz erguer o rosto para o alto onde até o sol parece dançar a dança da luz.

Senhora da charneca a nossa terra orgulha-se por teres deixado no meio de nós um sinal da tua presença amável, própria da presença duma boa mãe. É uma terra magra, cheia de pedras e abundante de espinhos. Transformá-la em terra fértil que dê pão para todos é tarefa árdua e que vai deixando as suas vítimas. Necessitamos da Tua ternura que vá cicatrizando as nossas muitas e por vezes profundas feridas.


domingo, 6 de maio de 2012

O fundamental


 
Impressionou-me neste fim de semana a síntese que o Apóstolo João, já na fase mais vetusta da sua vida e certamente resultado duma profunda e analítica reflexão, faz no capº 3º da sua 1ªcarta aos cristãos seus contemporâneos acerca do que considera como fundamental. João com toda a simplicidade e duma forma fácil de compreender explica que existe um mandamento fundamental: "acreditarmos no nome de Jesus Cristo, como Filho de Deus, e amarmo-nos uns aos outros, como Ele nos mandou".

Ao longo da história temo-nos empenhado, na senda do que era típico do judaísmo contemporâneo de Jesus, em construir um sistema normativo que nos tem feito prisioneiros dum emaranhado de leis e preceitos, interpretados por especialistas devido à menoridade instalada, explorada e cultivada no comum dos fiéis. Fomos sendo assumidos como ignorantes, surgindo assim os estatutariamente leigos, o mesmo é dizer os oficialmente ignorantes. É certo que hesistiram raras e honradas excepções, mas todas elas foram constituídas em exemplos para lenitivo do peso da ignorância e das incapacidades que se abate sobre o "comum".

É para mim extremamente gratificante e libertador ouvir pela voz autorizada do Apóstolo João afirmar com toda a simplicidade que a proposta que me é feita é que reconheça Jesus Ressuscitado, a Ele adira como Caminho,Verdade e Vida, O aclame como Libertador da tragédia da minha mortalidade e que assuma uma forma nobre de me relacionar com todos os demais, isto é, amar a todos pois todos são meus iguais em dignidade. Obrigado João Apóstolo!


domingo, 29 de abril de 2012

sorrir



No dia do sorriso não faz mal sorrir, mesmo que seja um sorriso de banalidade. Aliás se formos a prestar atenção a multiplicidade dos sorrisos corresponde à multiplicidade das nossas expressões e à diversidade das nossas emoções. Sorrimos para expressar a nossa simpatia e o nosso desprezo, a nossa alegria e o nosso sentir sofrido, o nosso encontro e a nossa despedida, sorrimos para a nossa solidão e para a nossa companhia, sorrimos para nós e sorrimos para os demais... De facto do riso amarelo. ao riso da humilhação, ao riso amoroso, ao riso triunfante, até ao riso inocente e ao riso comprometido vai uma palete de cambiantes que tornam o sorriso numa das expressões mais diversificadas e complexas  do sentir humano. Chegamos a chorar sorrindo e a  rir chorando. Por isso um sorriso é sempre uma previligiada forma de comunicação humana. Vale sempre mais sorrir que ficar fechado no serrar dos sobrolhos. Então elejamos o sorriso como a forma mais elegante de comunicarmos uns com os outros, mesmo quando a nossa mensagem não é portadora do agradável. Aqui deixo o meu sorriso amável para quem tiver a descontracção suficiente para ler esta banalidade.

Já que estamos a falar de riso e de sorriso aqui transcrevo uma situação que pelo menos não fará chorar:
  Um maluco deixou cair o relógio duma janela do 3º andar. Desceu com toda a velocidade  pelas escadas abaixo e veio esperá-lo ao fundo. Alguém lhe perguntou o que estava a fazer: "á espera do meu relógio". Procure-o mas é no chão partido. - "Não senhor, que ele ainda não chegou cá abaixo, pois andava dez minutos atrasado".

domingo, 22 de abril de 2012

forasteiro


Muitas vezes na vida e mormente quando vemos que as nossas certezas, as nossas seguranças e as nossas melhores expectativas  se desmoronam, o melhor que nos pode acontecer é que alguém, que caminhe o mesmo caminho da vida, se interesse pelas nossas preprexidades e nos ajude a descobrir o sentido daquilo que nos surge como sem sentido. Não resolve tudo mas é como se uma pequena luz se acendesse dentro de nós iluminando a confusão que parece paralizar a nossa capacidade de ver, de analisar e de confrontar a realidade com o sonho, a promessa com o acontecido, a intuição com a realidade. Esse forasteiro torna-se numa porta aberta para a descoberta da novidade que se apresenta quando somos capazes de aceitar viver sem todas as certezas e sem todas as seguranças. Acabamos por descobrir que as respostas se encontram fora de nós e que a aparência pode ou não ser manifestação da realidade. Somos de facto aquilo que a relação com os demais nos ajuda a ser.

sábado, 14 de abril de 2012

fragilidade



Nada mais fraco e desprotegido que aquele que adormece à sombra do chapéu a que chama segurança e fortaleza. Qualquer rajada de vento vira o chapéu e ou acorda para uma nova realidade, ou fica sujeito á intempérie e ás consequências supervenientes. Sempre que pensamos que somos senhores do universo, este rápidamente demonstra que não aceita tiranos, mas apenas humildes servidores. Sempre que nos parecer que conseguimos ver  e expressar toda a verdade o melhor é marcar uma consulta para o oftalmologista pois é sinal duma perigosa miopia  ou de cataratas em estado avançado.

Encontrar graça á desgraça ou brincar com a fraqueza é afirmação de mediocridade. Servir-se  da insegurança, da dependência, ou da amargura alheia para conseguir vantagens é manifestação de mesquinhês e garantia de que dali só serão de esperar chantagem, desilusões e manipulação.

O primeiro passo para avançar é aceitar os momentos de desequilibrio e insegurança resultantes do facto de ficar momentaneamente apoiado só num pé. Quem quiser não mudar os pés do mesmo sítio corre o risco de se transformar em estaca que dificulta o caminho de quem não desiste de avançar.

A fragilidade da força é a auto-suficiência que dificulta o diálogo incondicional e a força da fragilidade é a convergência das frágeis forças dispersas que transformadas em bloco são capazes de ser suporte consistente de novo edifício. Não se trata de unanimismo mas de sintonia de esforços para remover obstáculos que pareciam inamovíveis.

sábado, 7 de abril de 2012

Páscoa 2012




Nesta Páscoa desejo a todos os que entrarem neste blogue, seja qual for o local em que se encontrem, que á sua mesa não escasseie o pão da alegria, o tempero da amizade, nem a confiança no futuro como adoçante.

Após um tempo de pausa, de expectativa, de confusão e de alguma desesperante desilusão, é-nos proposto que abramos os nossos olhos, nos voltemos para a luz que irradia do Novo Sol, e deixemos que  nova luz ilumine os obscuros recantos da nossa existência, onde se escondem os nossos medos, as nossas inseguranças, as nossas frustrações e desencantos, mas também os nossos sonhos, a nossa vontade de  nos superarmos e de nos erguermos vitoriosos  sobre a nossa precariedade individual e colectiva.

Um dia a Páscoa de Jesus será também a nossa Páscoa. Vivemos a mesma aventura humana, atravessaremos o silêncio transformador e emergiremos no intuído e sedutor desconhecido. Solidários na mesma aventura do devir humano. Não sei como nem quando, mas sei que lá estarei e lá nos re-encontraremos. Afinal Páscoa é acontecimento anunciado, promessa cumprida, profecia realizada, imprevisto previsto. A todos os que lerem esta mensagem e sintonizarem com o fundamento do seu conteúdo convido a juntarem-se a mim numa silenciosa, mas profunda salva de palmas a Jesus ressuscitado.

grande pausa


Hoje é tempo de silêncio denso, tenso, profundo e expectante. É o Sábado da Semana Maior que faz a ligação entre a tragédia, o drama, a vivência dolorosa e sofrida do ontem e a surpresa, a claridade e a sublimação do amanhã. Hoje é a grande pausa que faz a ligação entre o antes e o depois, entre a realidade e o sonho, entre o precário e o consistente. Hoje é dia de escutarmos as nossas dúvidas, os nossos anseios, o eco dos nossos falhanços e os apelos à superação de nós mesmos.

Todos e cada um de nós teremos a nossa Sexta-Feira maior e durante  um grande Sábado transitaremos da condição de mortais para a condição de imortais, por muito ou pouco empolgante que tenha sido a nossa vivência temporal. Por muito esforço que faça e por muito ruído que introduza na minha engrenagem interior não consigo conformar-me com a proposta de que surgi do nada e ao nada regressarei. Encontro em mim eco daquela afirmação de Jesus de Nazaré: "Eu vivo e vós vivereis".

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sexta-Feira Santa

   Hoje há gente que morre pela simples razão de se reconhecer cristã, de reconhecer Jesus como referencial da sua existência e a Ele aderir como Caminho, Verdade e Vida. Hoje é Sexta- Feira Santa.
  Hoje há gente que é injustamente julgada e condenada em nome do mais conveniente para o poder instituído. Hoje é Sexta-Feira Santa.
  Hoje há gente que sofre as consequências de ter nascido frágil e dependente. Hoje é Sexta-Feira Santa.
  Hoje há gente que morre crucificada no alto da montanha formada pela injustiça, condenação, abandono e precariedade. Hoje é Sexta-Feira Santa.
  Em cada um de nós existem marcas de injustiça, de fragilidade, de sofrimento, de dúvida, de tristeza, de alienação, de precariedade. Hoje é também Sexta-Feira Santa em cada um de nós.

domingo, 1 de abril de 2012

De burro?


Por muito entretidos que andemos e por mais esforço que investamos para esconjurar esse monstro que nos vai devorando e a que podemos chamar desemprego, carestia ou depressão, estamos a iniciar uma semana que duma forma ou de outra não nos deixa indiferentes. A nossa tradição chama-lhe Semana Santa ou Semana Maior  e duma forma mais ou menos assumida remete-nos para uma dimensão que mexe com as mais profundas inquietações do ser humano. Se estivessemos apenas perante a evocação de factos históricos bastava ler os livros, interpelar a História e fazer umas quantas cerimónias evocativas. Mas o que aparece perante os nossos olhos é o triunfo da injustiça. o drama da violência, o abuso do poder, o amesquinhamento da pessoa. a aniquilação do diferente, a morte do justo transformada em exemplo para todos quantos não queimam incenso no altar do poder económico, do poder político e do poder religioso. Todos andamos á procura duma resposta para tanto absurdo. Será que o Nazareno montado num jumento a caminho da sede do poder político, do poder religioso e do  poder económico ainda continua a inquietar estes poderes instalados sobre a angústia, o sofrimento e o aviltamento dos povos na diversidade dos locais e das latitudes?

quarta-feira, 7 de março de 2012

Equilíbrio

Com o avançar dos anos mais me vou convencendo que a vontade do ter, do poder e do ser é inata em cada ser humano. Tudo seria constitutivo duma dinâmica de crescimento individual e colectivo se estas três vertentes se interligassem de forma harmoniosa. O ser humano necessita de "ter" o necessário para viver com dignidade, necessita de "poder" para se afirmar como pessoa e necessita de "ser" reconhecido e aceite pelo outro individual e colectivo. Quando alguma destas vertentes é minimizada pelas demais gera-se o natural desequilíbrio que pode levar á auto-destruição e transforma-se em foco transmissor  de convivência desordenada e malévola .A vontade insaciável de"ter" origina que quem "tem" muito queira muito mais e assim tudo e todos só são válidos se contribuem para aumentar o seu "ter". A sofreguidão do "poder" tende, para se afirmar, a servir-se de tudo e todos para se fortalecer e ser reconhecido. A predominância do "ter" tende a servir-se do poder e do ser e  a predominância do "poder" tende a aliar-se aos detentores do "ter" para se  consolidar. Neste confronto quem fica a perder è sempre o "ser". Não só os grandes  e super-grandes detentores do "ter"e do "poder"fácilmente se transformam em monstros devoradores , como os carentes do mínimo de "ter" e de poder"são transformados em vítimas sacrificadas para alimento da monstruosidade. Só um grande esforço e consciência individual e colectiva pode implementar uma dinâmica que constantemente re-equilibre o "ter", o "poder" e o "ser" para que todos possam crescer e viver.


domingo, 4 de março de 2012

Cada vez mais do mesmo

Tudo indica que no que toca aos ideais da liberdade, da  igualdade e da fraternidade os progressos são muito mais no sentido negativo do que no sentido da realização individual e colectiva. Apesar das encenações levadas a efeito para serem ampliadas pela comunicação social, fico com a desencantada sensação de que o que mais interessa é arregimentar as hostes para em tempo julgado oportuno avançar para a conquista da fortaleza do poder. O que seria dos nossos políticos se não tivessem atrás de si os holofotes e as câmaras da televisão? Seriam ainda reconhecidos por algo de importante que tenham feito a favor deste povo? Teriam ainda algo de motivador e construtivo a transmitir? Continuariam a sair ás praças da cidade e ás ruas das aldeias para levarem a mensagem mobilizadora e sem medo de mostrar a sua diminuta estatura? Quando virá o dia em que as organizações e instâncias   responsáveis pela penúria em que estamos colectivamente mergulhados tenham a coragem de assumir que foram os obreiros da calamidade que avança impiedosa sobre milhões de portugueses? Se não há a coragem para assumir o fracasso como se pode ter a ousadia de se apresentarem perante a sociedade como libertadores da opressão que os próprios promoveram?

Chegou a notícia de que foi descoberto um primeiro lote de trezentos que transferiram milhões para os chamados paraísos fiscais. Já se sabe de há muito que uma minuria deste povo é senhora da grande  maioria dos bens e recursos e que uma maioria deste mesmo povo vive e trabalha para alimentar a manutenção desta forma absurda de gerir o bem comum. Será que muitos não poderiam viver muito bem com um pouco menos e que muitos mais poderiam viver um pouco menos mal com um pouquito mais?

Apesar de todas as contradições continuo a apoiar, ainda que com a eficiência da minha  insignificância, todos os esforços que os homens sérios e justos deste meu país estão fazendo para colectivamente sairmos desta situação deprimente que avança mais rápido que qualquer doença contagiosa.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Reflexão de fim de tarde




Nesta tarde soalheira de Fevereiro mascarado de Verão e no início deste período carnavalesco em que socialmente se procura mostrar um pouco do que habitualmente anda oculto, dando um certo escape ás muitas fustrações e tensões acumuladas, dou por mim ocupado com alguns pensamentos que de forma gratificante estão povoando a dimensão do meu sentir.                                     
                                              
Confirmo que não é fácil passar da perspectiva do "talvez" para a dimensão do "afirmativo", que  leva a dizer "sim" quando sim e "não" quando não. Até se diz que a realidade não é a preto e branco, o que equivale a afirmar que a realidade é pardacenta, não se sabendo nunca onde começa e onde acaba. Como a realidade é a verdade, nunca se sabe bem o que é verdade e o que é mentira, tudo dependendo da arte comunicacional, e da conveniência circunstâncial. Assim chegamos á mentira piedosa e ou de conveniência, á chamada verdade de circunstância e ao politicamente correto. Estamos neste processo no caminho da desconfiança  relacional, da atitude de defesa permanente e da insegurança sistémica. Só um grande carnaval nos pode momentaneamente descomprimir.
                                      
Em tempos de crise económica não é fácil intervir a favor do "outro" na sua totalidade. Ou ficamos sensíveis apenas á dimensão material e promovemos a afirmação do "coitadinho" e do "pobrezinho", ou apenas voamos nas asas do "espírito" e caímos na dimensão da relação alienante e ineficaz. Uma dinâmica de promoção integral de todo o "outro"é certamente  a luz condutora. Direitos sem deveres geram ditadores e deveres sem direitos geram escravos.

Numa sociedade de consumo o não consumir a ritmo sempre crescente é gerador de crise e de retrocesso. Quando se consome pouco é porque se tem pouco, ou porque se tem medo de perder aquilo que ainda resta. O sistema entra em perda acelerada e não é fácil voltar á alienante mas saudosa dinâmica do "compre agora e pague depois". A relação de mãos abertas é cada vez mais rara, pois quem tem não abre as mãos porque quer guardar o que julga ter e quem não tem só sabe abrir as mãos para receber e uma vez recebido logo as fecha. Seja qual for a atitude individual uma certeza se impõe como irrefutável: todos nos apresentaremos perante a VIDA de mãos abertas à gratuidade.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

aplauso merecido



No meio da ansiedade generalizada, abundantemente alimentada pelo cacarejar das muitas aves canoras que chilreiam através dos écrans dos vários canais da televisão, dois acontecimentos chamaram recentemente a minha atenção pela positiva. O primeiro foi a grande manifestação realizada na Praça do Comércio no passado Sábado e o segundo foi a resposta positiva aos pedidos para que fossem  reforçadas as dádivas de sangue. O primeiro manifestou de forma clara, ordeira e democrática as inquietações e incertezas da sociedade portuguesa e o segundo revelou a generosidade de muitas pessoas que ofereceram do melhor de si mesmas: o seu sangue a favor de necessitados anónimos. Uns e outros são dignos de sublinhado aplauso e revelam que alguma coisa temos crescido como povo.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Aplauso para 2012



O ano de 2012 chegou, deitaram-se alguns foguetes para mostrar que ainda restam uns "cobres" no fundo da gaveta, já gasta de tanto ser raspada, e cá estamos iniciando uma penosa etapa num processo que será certamente cheio de sinais contraditórios e geradores de ansiedade individual e colectiva. Como a roda do tempo avança sem fazer greve, toda a atenção é pouca para não entrarmos num carrocel de figurinhas mais ou menos engraçadas que sobem e descem, andam à roda, mas voltam sempre ao ponto de partida sem qualquer avanço que leve a sair da situação de "pescadinha de rabo na boca".
É sabido que só intervenções justas são geradoras de justiça e que só o homem justo é capaz de ser promotor da justiça e da paz, por isso um apelo a que se unam todos os que neste país amam de verdade  a Justiça para serem impulsionadores das de há muito necessárias mudanças geradoras de justiça e de paz. Para estes invoco neste início de 2012 a sabedoria, a inteligência, a fortaleza, a ciência e a dedicação à causa comum necessárias para levar por diante a nobre tarefa da reconstrução do optimismo.
Ainda respirando o ambiente da quadra natalícia proponho, àqueles para quem é importante olhar com olhos de esperança e de optimismo existencial para a Criança Divina, que neste primeiro dia de 2012 ofereçamos uma flor a Maria de Nazaré, que no meio das muitas nublosas não perdeu de vista a estrela anunciadora dum novo horizonte onde a terra e o céu se beijam e se confumdem.
Bom ano  mais uma vez para todos!