domingo, 27 de fevereiro de 2011

resistir




Há quem pense que a resistência é sinónimo de passividade, ou mesmo a atitude resultante do não compromisso. É certo que resistir pode ser fincar os pés no chão e recusar a mudança, mas também pode ser o mobilizar das energias e meios disponíveis e necessários para não ser submergido e arrastado  pela onda que avança ameaçadora. Resistir à sede do poder pode ser manifestação de força, coragem e lucidez. Resistir à oportunidade do enriquecimento fácil pode ser uma atitude nobre e solidária. Resistir a gritar para que todos oiçam e vejam que existimos pode ser uma atitude sábia e prudente. Resistir a querer ter sempre razão pode ser um passo primeiro para uma abertura á procura convergente e mobilizadora. Contudo se quem não resiste não persiste, haverá igualmente que cultivar a atitude da ousadia que seja o conversor das energias e forças potencialmente destrutivas em novas fontes de sucesso. A demagogia alienante e a maledicência sistemática são armas sobejamente aperfeiçoadas e usadas sobretudo quando a sociedade parece encurralada num labirinto em que já se confunde o donde viemos com o para onde pretendemos ir. Ninguém andará o caminho que temos de andar e esta teimosia em querer avançar sempre ás cavalitas de alguém acaba por cansar  e desesperar os sistematicamente sobrecarregados.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

a força da não violência




Neste fim de semana fui sensibilizado para uma velha e nova realidade que é a chamada "força da não violência". Veio-me à memória figuras como Gandhi, Luther King, Nelson Mandela, ou mesmo Desmond Tutu. Gandi com a sua resistência não violenta levou os seus concidadãos a vencer a potência inglesa, Luther King lançou o movimento de libertação dos negros na América, Nelson Mandela e Desmond Tutu venceram o regímen do apartei na África do Sul. Igualmente me ocorre todo o percurso verdadeiramente inovador que tem sido o processo da integração europeia. E que dizer desse movimento iniciado e dinamizado pelo pacífico e inovador galileu Jesus de Nazaré? Quem mais não violento, mas mais forte do que Ele?
Actualmente estamos a assistir um tanto expectantes ao surgir de manifestações consistentes de multidões que se juntam para de forma não violenta se manifestarem contra a violência instituída como sistema. A força dos fracos e dos não violentos instala-se na praça pública e questiona e confunde a força dos fortes. Não sei como e qual o desfecho final, mas o que sei é que a experiência de que a força desarmada pode ser mais forte que a força apoiada nas armas vai ser uma inspiração no futuro e é uma mensagem para os poderes instalados que não pode ser ignorada. É possível uma revolta sem revolução e é possível derrubar o poder instalado sem recurso a armas. Para quem souber ler um novo sinal dos tempos está acontecendo diante dos nossos olhos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

positivo

Assisti ontem ao programa "Prós e Contras" da RTP e sinto meu dever manifestar o meu aplauso não só à competente jornalista Fátima Campos Ferreira, mas também e sobretudo, a todos os intervenientes que foram a expressão da raça dum povo que não se resigna perante as dificuldades e sai do seu buraco para ir à conquista do seu espaço numa globalidade onde os limites são as fronteiras da competência, do conhecimento, da qualidade e do diferente. Já andámos demasiado tempo a carpir mágoas, a mendigar á porta dos mais abastados, a comer fiado, a brincar ao "toca e foge" e ao jogo da "cabra cega". Aguardamos activamente que surja uma nova mentalidade que nos leve a romper com o complexo de pequenês e nos permita navegar pelos mares da competência, e dos horizontes rasgados. Podemos ser um pequeno grande povo que se orgulha do seu passado, paga as custas dos seus desvarios do presente e constrói com afinco o seu futuro. Programas como o "Prós e Contras" são dignos de aplauso e valorizam quem os faz e quem os ouve. Parabéns!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

o sabor e o saber




Não sei bem porquê dei por mim hoje a pensar sobre o sentido do "sabor e do saber". Talvez que esta ginástica mental tenha sido despoletada por me ter sido chamado a atenção para a necessidade da percepção do sentido da vida,  da coerência entre a proposta e a oferta, entre o saber e o viver, entre a verdade e a opacidade. Ser capaz de saborear a vida dá sentido ás pequenas coisas da vida; ser capaz de se deixar encantar pela beleza da flor, pela elegância do pombo que passeia à nossa frente, pelo riso da criança que só sabe confiar, pela luminosidade espelhada no rosto de dois jovens enamorados, pelo ar triunfante do adulto que está tendo sucesso, pelo olhar agradecido do idoso que se sente respeitado, é manifestação de que estamos aprendendo a viver. Contudo sem conhecimento e saber não existe sabor nem gozo que nos leve a deixarmo-nos encantar por nós mesmos e pelos outros e se não nos deixarmos encantar por nós mesmos e pelos outros não iremos além da triste e enfadonha experiência da mediocridade. A ignorância  e a irreflexão não são portas de acesso à felicidade humana e a procura frenética do prazer não deixa espaço para a saborosa experiência da liberdade. Se posso ser feliz saboreando uns frescos carapaus grelhados porque teimo em ser infeliz porque não posso comer uma lagosta preparada por um ilustre chefe de cozinha? Vou saborear os ditos carapaus que além de me estarem acessíveis ainda me recompensam não fazendo subir o ácido úrico. Corro o risco de fazer figura de "pateta alegre", mas mesmo assim é preferível a ser "pateta triste". Crescer em saber é apurar o gosto por viver e saborear a vida é progredir na descoberta do ser e do sentido de cada realidade.