sábado, 31 de dezembro de 2011

Adeus 2011



O ano de 2011 está na ponta final. Daqui a um par de horas saltar-se á para 2012. Se o ano que termina não deixa muitas saudades, pelo menos a nivel colectivo, o ano que espreita e quer entrar não parece ser portador de grandes esperanças. Seja como  for estamos cá e queremos continuar a viver. Por isso bom ano para todos os indignados com as muitas injustiças herdadas, um bom ano para todos os enrrascados pela irresponsabilidade de quantos têm conduzido este país a uma situação em que o pão é cada vez mais escaço e mais duro, um bom ano para todos aqueles que não se resignam e procuram novas soluções, um bom ano para quantos estão dispostos a sacrificar a fama, o poder e a comodidade no altar do bem comum.
Saudação especial para os pobres deste país, para os que se encontram numa cama prisioneiros da doença, para os que estão a cuidar dos mais frágeis, para os que olham sem horizonte para o dia seguinte, para os que se encontram em fim de caminho, para os que vão ficando nas margens misturados com o lixo arrastado pela torrente. Saudação para aqueles que nunca são saudados e para aqueles que estão sós e que  não têm ninguém que lhe deseje um bom ano.
Que aqueles que festejam não percam o sentido da festa na vida, que aqueles que simplesmente não querem pensar não sejam devorados pelo turbelinho da alienação, que aqueles que proclamam vitória não se vangloreiem sobre os despojos dos vencidos, que aqueles que avaliam a qualidade da festa pelo número de  euros que pagaram descubram que a vida com um pouco menos  de abundância e sofreguidão pode ser mais gratificante e proporcionar uma maior abertura para fora de si ao encontro dos outros.
Um Bom Ano para todos!

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal 2011




Celebrar o Natal sem uma atitude de louvor à VIDA, abertura  ao Transcendente, agradecimento ao Absoluto é uma proposta que me soa a alienação imposta por uma tradição cultural que passou à situação de cana seca. Ainda serve para nos irmos apoiando mas já perdeu a capacidade de renovo.
Por isso quero fazer-me eco daquela mensagem que vem de longe e que, apesar da sinuosidade dos caminhos e das contradições de receptores e emissores, continua a dar sentido a mais uma celebração do Natal em 2011: " Glória a Deus e paz aos Homens". Jesus nasceu e assumiu-se como resposta ao passado e sentido ao futuro. Passo bem sem embrulhos que escondem sempre um quase nada ou uma fantasia, enfeitados com laços que normalmente prendem mais que libertam, mas não desisto de celebrar a paz, a harmonia, a luz, a fraternidade,a exaltação da dimensão humana e  a glorificação da transcendência divina.
    Aqui deixo, para quem quiser uma boa sobremesa, o Decálogo do Natal:
Se tens tristeza, alegra-te!             Se tens pecados, converte-te!
O Natal é alegria.                      O Natal é vida nova.
Se tens inimigos, reconcilia-te!  Se tens trevas, acende a lâmpada!
O Natal é paz.                            O Natal é luz.
Se tens amigos, busca-os!             Se vives na mentira, reflecte!
O Natal é encontro.                    O Natal é verdade
Se tens pobres a teu lado, ajuda-os! Se tens ódio, esquece-o!
O Natal é dádiva.                        O Natal é amor.
Se tens soberba, sepulta-a!            Se tens fé, partilha-a!
O Natal é humildade.                  O Natal é Deus connosco.

   Para todos uma feliz celebração do Natal 2011!       
   Boas-Festas!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Homenagem

Hoje  proponho-me homenagear o poder que não gera escravos. Hoje quero proclamar que existe Alguém que exerce o seu poder sem tirania, nem exploração, nem necessidade de acumular, nem medo de perder reconhecimento. O meu reconhecimento, aplauso e aclamação para Aquele que surgindo da noite abre para todos a janela por onde entra a luz radiante do novo dia e a porta que dá acesso ao futuro. Alguém emergiu na nossa história humana que não se apoiou nem na força das armas, nem no poder económico, nem na sedução demagógica, nem na supremacia da cultura e da ciência, mas tão só na capacidade inesgotável de se dar para que a ninguém falte o sentido da vida. Ontem celebrou-se a festevidade de Cristo Rei.

Esta atitude leva-me a desejar sucesso a todos quantos exercem o poder que lhes foi dado  com respeito, temor e espírito de serviço. Quem tem o poder de construir, construa e não destrua, quem tem o poder de governar governe, quem tem o poder de restaurar  respeite o que de bom existe, quem tem o poder de servir  não se deixe transformar de servidor em dominador. As épocas de crise são propícias ao surgimento de demagogias pseudo-democráticas, ao aproveitamento do natural descontentamento para fins não esplecitados, à capitalização da desgrácia de muitos a favor dos interesses de alguns. Estamos de facto numa época de crise. Cuidado que a irresponsabilidade está em roda livre, a demagogia arregimenta as vítimas, a política do quanto pior melhor está a afirmar-se.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sentimento



Ontem, de forma discreta, foi-me soprado aos ouvidos do meu sentir interior e após a vivência provocada por múltiplas e recentes ocorrências, que não perdesse a serenidade nem me deixasse ofuscar pelo brilho do triunfo fácil e do brilho meteórico da inutilidade alcantorada em modelo de ser e de existir. Senti que a riqueza construída à custa da pobreza não tem futuro; que o poder assente sobre o sofrimento e a humilhação não tem futuro; que a abundância acumulada a partir da carência não tem futuro; que a injustiça não tem futuro; que a opressão não tem futuro; que a vigarice não tem futuro; que a inutilidade e a alienação não tem futuro.Como de forma mais ou menos consciente não podemos progredir sem nos sentirmos protagonistas dum futuro em construção, só resta que no metro quadrado que ocupo possa acontecer o futuro.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Toque a rebate

Toquem os sinos a rebate, ressoem as trombetas no alto dos castelos, circulem os pregoeiros pelas ruas da cidade, activem-se os foles nas forjas dos ferreiros, lancem-se os arados à terra, convoquem-se os trabalhadores para lançar as múltiplas sementes, saiam as caravelas para o mar, evoque-se o espírito dos nossos antepassados e inicie-se a reconstrução da nova cidade, pois aquela em que vivemos e nos divertimos afinal não é real mas virtual, degradada e decadente. Deixámo-nos alegremente empobrecer, trocámos a nossa primogenitura por uns quantos pratos de lentilhas, pensámos que ficávamos ricos só pelo facto de termos entrado no clube dos mais ricos, achámos que o nosso futuro era viver do fiado. Um dia destes entrámos em casa e, desilusão das desilusões, os que tocavam a música que nós tão gostosamente dançávamos disseram-nos que a festa tinha acabado e deixaram-nos entregues a nós próprios. O pior que nos pode agora acontecer é entrar num processo de auto-destruição. Convergência de esforços, sentido do bem comum, afirmação da nossa própria identidade, aprender a comer o pão duro, deixarmos de ser a geração coca-cola e o clube de alienados. A força dum povo que se ergue orgulhoso da sua identidade é mais forte que todas as adversidades.


terça-feira, 21 de junho de 2011

honra e lealdade

 Tomou hoje posse o novo governo resultante da manifestação da vontade do Povo Português expressa nas eleições do passado dia 5 de Junho. É um governo que saúdo e que me surpreende pela positiva pela novidade de algumas escolhas e pela disponibilidade manifesta para servir em tempo de incerteza, de conflito anunciado, de pressão constante, de risco colectivo.
 Ouvi os discursos de posse do novo governo, quer do Presidente da República, quer do Primeiro Ministro Passos Coelho. Ambos os discursos encontraram eco no que penso e sinto. É preciso actuar rápido e bem, pois actuar em tempo útil é meio caminho para a eficácia.
 As duas palavras chaves proclamadas e ouvidas foram "honra" e "lealdade". Homens e mulheres que perante o País se comprometem pela sua honra ser leais para com o seu Povo são dignos de aplauso e de receberem a confiança dos seus concidadãos. Para eles a coragem, a sabedoria, o entendimento e a eficácia na sua actuação.
 Também hoje foi eleita a Drª Assunção Esteves para Presidente da Assembleia da República. Um grande aplauso. Valeu apena a baralhada do deputado Fernando Nobre para abrir caminho para tornar possível esta eleição. Passos Coelho mostrou inteligência e surpreendeu pela resposta dada a um passo falhado.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O dia seguinte

Dificilmente o dia seguinte é igual ao dia que o antecedeu, ou porque está mais sol e mais calor, ou porque está mais nublado ou, ou... De facto o dia de hoje está menos claro que o dia de ontem, apesar deste se ter apresentado com um certo calor de trovoada.
Ontem o povo saiu á rua de forma ordeira e pacífica como quem vai realizar um ritual comemorativo, mas também como quem vai iniciar uma nova jornada matizada com as cores da esperança e da apreensão. Foi dia de eleições legislativas que decorreram com laivos de solenidade e de celebração da igualdade. Cada qual tinha um voto e tanto valeu o voto do pobre como o voto do rico, o voto do sábio como o voto do ignorante, o voto do que ganha o salário mínimo como o daquele que saca por mês o equivalente a cem anos ou mais desse  referido salário. Por um momento fomos todos iguais em valor.
No final da tarde e já as luzes da cidade supriam a retirada do sol, assistimos com o espanto de muitos, com a satisfação de muitos mais, com a triunfante resignação de bastantes e a mal disfarçada desilusão duns tantos, ao resultado da votação transformada em decisão soberana. Como consequência dessa magna decisão Sócrates, enquanto político, tomou a sua dose de cicuta, Paulo espreitou à porta do poder e Passos subiu as escadas do palanque do poder instalado no meio da grande praça da República. Cantou-se o Hino Nacional e fomos todos descansar pois o dia seguinte era dia de trabalho.

Passos Coelho pertence à nova geração de jovens políticos e se não se pode apoiar na sua experiência de governação, pode e deve olhar para o futuro e a partir da expectativa dum povo e assente na realidade do presente construir honradamente e em cada dia a concretização da esperança colectiva. Para ele invoco a inteligência e a sabedoria nos muitos momentos de solidão que vai ter de viver antes das muitas decisões. Que sejam dados passos decididos no caminho da honradez, da Justiça, da coesão social  e do crescimento integrado. O quintal está cheio de ervas daninhas que ameaçam abafar algumas das boas árvores anteriormente plantadas.

Saudações ao novo primeiro Ministro e ao novo Governo que em breve vai ser constituído.

domingo, 8 de maio de 2011

Salvadores

Começou a campanha eleitoral! Os tradicionais concorrentes esgotaram já as reservas de corifina em todas as farmácias do seu bairro e os mais prevenidos juntaram uma reserva de cascas de cebola, pois o chá de cascas de cebolas faz bem à garganta. Impressiona-me a força colocada em tantas palavras que já provaram á saciedade a sua  desastrosa ineficácia. É que as palavras não se tornam eficazes só pelo facto de serem gritadas e amplificadas. Estamos a assistir ao início do confronto das várias demagogias. Ainda gostaria de ouvir afirmar tão só que vamos comer o pão que o diabo amassou, que desta vez não nos vão tentar enganar e vão ser honestos com a aplicação do programa de governo importado. Já que importamos a maior parte do que consumimos porque não haveríamos também de importar um programa de governo? Se querem que seja escrito com tinta de cor preta, vermelha, azul, laranja, verde ou outra, pois seja. Entretenham-se a demonstrar que a sua cor é a que mais suaviza o veneno contido na embalagem do veneno a tomar como remédio. A única diversão que resta é ver o afã posto nos jogos da "cabra cega" , do "toca e foge", dos "polícias e dos ladrões" e presenciar a lucidez e sabedoria dos omniscientes  comentadores que assentaram arraiais nas cátedras dos meios de comunicação social. Aprende-se muito com tanto saber...

sábado, 23 de abril de 2011

Páscoa de 2011

Os dias seguem as noites, as semanas sucedem-se, os meses multiplicam-se e os anos marcados pelo ritmo do tempo fazem-nos ir vivendo novos acontecimentos e revivendo esperanças realizadas umas,outras nem tanto. E cá estamos a viver mais uma Páscoa com a sua dimensão de memória do já vivido e a sua mensagem de promessa a concretizar. Não sei como nem quando essa concretização vai acontecer, mas reconheço que sem o sentido, a luminosidade e a profundidade da Páscoa a vida humana fica demasiado opaca e sem perspectiva consistente de futuro.

Para todos os meus contemporâneos em geral e para os que lerem esta mensagem em particular desejo uma visão consistente da existência.

Boa e feliz Páscoa para todos !

domingo, 27 de março de 2011

por favor!

Por favor não brinquem connosco! Já nos chega saber que estamos falidos e que só nos resta estender a mão! Porque nos querem ainda fazer de tontos? Quem ascendeu ao poder manifesta demasiado apego ao poder e quem aspira ao poder manifesta incontida ânsia de poder. Em nome do bem comum é demasiado notória a afirmação do bem de alguns. É verdade, a política sem ética transforma-se numa representação que alterna entre a tragédia e a comédia. A grande maioria vive a tragédia e um número significativo de artistas procura entreter o público com a comédia. A avaliar pelo ensaio vamos ter um tempo de frenética comédia antes de retomar-mos em contínuo a acentuada e prolongada vivência da tragédia.

terça-feira, 1 de março de 2011

enrascadela



Num país enrascado quem é que fica respaldado a não ser as aves de rapina e os enrascadores de profissão? As crianças estão a ser enrascadas, pois com tanta artificialidade mais parecem aves de capoeira do que andorinhas em início de Primavera. Os jovens sentem-se enrascados pois prometeram-lhes o sol e só vêm a lua nova. Os adultos estão enrascados pois sonharam com a abundância e deparam-se cada vez mais com a carestia. Os idosos estão super enrascados pois pensavam que tinham construído uma sociedade consistente e sai-lhes uma sociedade gelatinosa. Como sair deste embróglio sem gastar as poucas energias restantes destruindo o que ainda resta ? Pode cada grupo cuspir a sua raiva para cima dos demais, mas enquanto não passarmos da ânsia do usufruir para o esforço de construir apenas ficaremos todos cada vez mais atolados em  lixo tóxico. Os portugueses que tiveram a coragem de se aventurarem no diferente sempre conseguiram afirmar-se e transformar o enrascanso em desenrascanso, mas sempre recorrendo ao sobre esforço, ao acumular de energias, ao confronto com o diferente e ao sair para fora do seu quintal. Já que não tivemos a capacidade de ser bons gestores e a inteligência para prever e evitar o desastre sejamos ao menos bons imaginativos na gestão da insolvência. É o que se chama "fazer das tripas coração".

domingo, 27 de fevereiro de 2011

resistir




Há quem pense que a resistência é sinónimo de passividade, ou mesmo a atitude resultante do não compromisso. É certo que resistir pode ser fincar os pés no chão e recusar a mudança, mas também pode ser o mobilizar das energias e meios disponíveis e necessários para não ser submergido e arrastado  pela onda que avança ameaçadora. Resistir à sede do poder pode ser manifestação de força, coragem e lucidez. Resistir à oportunidade do enriquecimento fácil pode ser uma atitude nobre e solidária. Resistir a gritar para que todos oiçam e vejam que existimos pode ser uma atitude sábia e prudente. Resistir a querer ter sempre razão pode ser um passo primeiro para uma abertura á procura convergente e mobilizadora. Contudo se quem não resiste não persiste, haverá igualmente que cultivar a atitude da ousadia que seja o conversor das energias e forças potencialmente destrutivas em novas fontes de sucesso. A demagogia alienante e a maledicência sistemática são armas sobejamente aperfeiçoadas e usadas sobretudo quando a sociedade parece encurralada num labirinto em que já se confunde o donde viemos com o para onde pretendemos ir. Ninguém andará o caminho que temos de andar e esta teimosia em querer avançar sempre ás cavalitas de alguém acaba por cansar  e desesperar os sistematicamente sobrecarregados.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

a força da não violência




Neste fim de semana fui sensibilizado para uma velha e nova realidade que é a chamada "força da não violência". Veio-me à memória figuras como Gandhi, Luther King, Nelson Mandela, ou mesmo Desmond Tutu. Gandi com a sua resistência não violenta levou os seus concidadãos a vencer a potência inglesa, Luther King lançou o movimento de libertação dos negros na América, Nelson Mandela e Desmond Tutu venceram o regímen do apartei na África do Sul. Igualmente me ocorre todo o percurso verdadeiramente inovador que tem sido o processo da integração europeia. E que dizer desse movimento iniciado e dinamizado pelo pacífico e inovador galileu Jesus de Nazaré? Quem mais não violento, mas mais forte do que Ele?
Actualmente estamos a assistir um tanto expectantes ao surgir de manifestações consistentes de multidões que se juntam para de forma não violenta se manifestarem contra a violência instituída como sistema. A força dos fracos e dos não violentos instala-se na praça pública e questiona e confunde a força dos fortes. Não sei como e qual o desfecho final, mas o que sei é que a experiência de que a força desarmada pode ser mais forte que a força apoiada nas armas vai ser uma inspiração no futuro e é uma mensagem para os poderes instalados que não pode ser ignorada. É possível uma revolta sem revolução e é possível derrubar o poder instalado sem recurso a armas. Para quem souber ler um novo sinal dos tempos está acontecendo diante dos nossos olhos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

positivo

Assisti ontem ao programa "Prós e Contras" da RTP e sinto meu dever manifestar o meu aplauso não só à competente jornalista Fátima Campos Ferreira, mas também e sobretudo, a todos os intervenientes que foram a expressão da raça dum povo que não se resigna perante as dificuldades e sai do seu buraco para ir à conquista do seu espaço numa globalidade onde os limites são as fronteiras da competência, do conhecimento, da qualidade e do diferente. Já andámos demasiado tempo a carpir mágoas, a mendigar á porta dos mais abastados, a comer fiado, a brincar ao "toca e foge" e ao jogo da "cabra cega". Aguardamos activamente que surja uma nova mentalidade que nos leve a romper com o complexo de pequenês e nos permita navegar pelos mares da competência, e dos horizontes rasgados. Podemos ser um pequeno grande povo que se orgulha do seu passado, paga as custas dos seus desvarios do presente e constrói com afinco o seu futuro. Programas como o "Prós e Contras" são dignos de aplauso e valorizam quem os faz e quem os ouve. Parabéns!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

o sabor e o saber




Não sei bem porquê dei por mim hoje a pensar sobre o sentido do "sabor e do saber". Talvez que esta ginástica mental tenha sido despoletada por me ter sido chamado a atenção para a necessidade da percepção do sentido da vida,  da coerência entre a proposta e a oferta, entre o saber e o viver, entre a verdade e a opacidade. Ser capaz de saborear a vida dá sentido ás pequenas coisas da vida; ser capaz de se deixar encantar pela beleza da flor, pela elegância do pombo que passeia à nossa frente, pelo riso da criança que só sabe confiar, pela luminosidade espelhada no rosto de dois jovens enamorados, pelo ar triunfante do adulto que está tendo sucesso, pelo olhar agradecido do idoso que se sente respeitado, é manifestação de que estamos aprendendo a viver. Contudo sem conhecimento e saber não existe sabor nem gozo que nos leve a deixarmo-nos encantar por nós mesmos e pelos outros e se não nos deixarmos encantar por nós mesmos e pelos outros não iremos além da triste e enfadonha experiência da mediocridade. A ignorância  e a irreflexão não são portas de acesso à felicidade humana e a procura frenética do prazer não deixa espaço para a saborosa experiência da liberdade. Se posso ser feliz saboreando uns frescos carapaus grelhados porque teimo em ser infeliz porque não posso comer uma lagosta preparada por um ilustre chefe de cozinha? Vou saborear os ditos carapaus que além de me estarem acessíveis ainda me recompensam não fazendo subir o ácido úrico. Corro o risco de fazer figura de "pateta alegre", mas mesmo assim é preferível a ser "pateta triste". Crescer em saber é apurar o gosto por viver e saborear a vida é progredir na descoberta do ser e do sentido de cada realidade.

domingo, 30 de janeiro de 2011

a festa dos loucos




Não é fácil deixarmo-nos seduzir por aquilo que é mais importante e normalmente deixamo-nos entreter pelo anedótico, pelo secundário e pelo superficial. É o nosso instinto de defesa a ditar as suas leis e assim enquanto andamos atarefados, mesmo que seja com inutilidades, não temos tempo para ir um pouco mais além e descobrir o significado dos gestos, das palavras, das atitudes e das intervenções.
 
O mês que agora chega ao seu termo ficou marcado pela eleição do Presidente da República a quem, a todos os títulos, devo saudar, pois é a manifestação maioritária da vontade do Povo Português ao qual me orgulho de pertencer. O processo que antecedeu  e envolveu a eleição não foi para mim nem o mais sério , nem o mais responsável, nem o mais esclarecedor, nem o mais edificante, nem o mais motivador. Apesar de tudo parabéns ao Povo Português que mais uma vez foi digno de si mesmo.


 Hoje apercebi-me de um convite aberto que aqui partilho com quem esteja disponível para o receber: um convite para a festa dos loucos. É justo que os loucos também tenham direito a participar na festa da vida e não sejam sempre tratados como os coitadinhos e os vencidos. Todos os que se assumem nas suas limitações estão convidados; todos os que não têm vergonha da sua pobreza estão convidados; todos os que são catalogados de humildes estão convidados; todos os que têm fome e sede de justiça estão convidados; todos os que são capazes de ser misericordiosos e de perdoar estão convidados; todos os que não adulteram a verdade estão convidados; todos os que são vítimas da mentira e da injustiça estão convidados; todos os que são explorados e oprimidos estão convidados; todos os que têm a coragem de não se servir dos outros mas de servir os outros estão convidados, todos os que promovem a paz alicerçada na justiça estão convidados. Todos estes, que são tidos como loucos e deslocados estão convidados a participar na festa da vida e este convite foi feito por Jesus de Nazaré há cerca de dois milénios quando proclamou o Evangelho das Bem-Aventuranças e continua ecoando no tempo presente rumo ao futuro. Se por acaso não ouvimos é porque os nossos ouvidos estão demasiado obstruídos pelos resíduos deixados pela mentira, pela opressão, pelo poder, pela posse, pela injustiça, pela demagogia maquiavélica ou pela manipulação promovida a ciência. A festa dos loucos já começou, está acontecendo e vai prolongar-se enquanto houver loucos para festejar.

sábado, 22 de janeiro de 2011

pausa



Neste sábado, a que se convencionou chamar dia de reflexão em véspera de eleições, aqui deixo algumas respostas de Tales de Mileto, sábio da antiga Grécia que pisou a sua terra entre 640 e 550 a. c., a outras tantas perguntas que lhe foram feitas por um seu contemporâneo que praticava a arte do sofisma:
Qual é a coisa mais antiga? - Deus, porque sempre existiu.
Qual é a coisa mais bela? - O mundo, por ser obra de Deus.
Qual é a coisa maior? - O espaço, por conter toda a criação.
Qual é a coisa mais constante? - A esperança que permanece, mesmo quando tudo está perdido.
Qual é a coisa melhor? - A virtude, porque sem ela nada é bom.
Qual é a coisa mais sábia? - O tempo que tudo ensina.
Qual é a coisa mais forte? - A necessidade, que tudo vence.
Qual é a coisa mais fácil? - Nada mais fácil que dar conselhos.
Qual é a coisa mais difícil? - Conhecer-se a si mesmo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

engodo





Desde longe vem a arte de muito falar quando se tem pouco para dizer. A escacês de ideias abre espaço á abundância de palavras. A pouca razão convive bem com a irracionalidade. A superficialidade dificilmente aceita a reflexão séria. A verborreia não coabita pacificamente com o diálogo. O poder tem vertigens á hipótese de ceder a sua cadeira. Mudar é difícil e normalmente só acontece com empurrões, venham eles donde vierem. A demagogia abunda na inversa da assunção da responsabilidade. A alienação é o estado resultante da irracionalidade sabiamente cultivada e distribuída. As eleições presidenciais serão finalmente no próximo dia 23. Por muito que os habituais comentadores políticos se tenham espremido e esgrimido argumentos e contra-argumentos pouco ou nada se avançou em clarividência e é com alívio que nos aproximamos do termo desta campanha.

domingo, 16 de janeiro de 2011

fim de festa




Terminaram as festas do Natal e do Fim de Ano, comemos as filhós, lançámos os foguetes, dançámos o vira, o fandango e o malhão e fomos à gaveta ver se os euros restantes ainda chegavam até ao fim do mês. Como o saldo era negativo face á previsão dos encargos assumidos, fomos aflitos e com algum ar de pobre envergonhado pedir aos vizinhos que nos emprestassem o que nos falta. Os vizinhos disseram - nos que desta vez ainda emprestavam, mas exigiram-nos juros gravosos e disseram- nos que fizéssemos bem as contas pois viver do fiado acaba por mais cedo que tarde em dar mau resultado e a termos de empenhar os poucos haveres que ainda nos restam. Lá regressámos a casa com o ar de estranho alívio de quem empenhara mais uns anéis e a magicar como é que vamos conseguir viver apenas com o que conseguimos angariar. Será que vamos conseguir? Uns inteligentes dizem que sim, outros igualmente entendidos dizem que não, outros inspirados dizem que talvez, mas ninguém parece estar disponível para reduzir a sua mesada: uns porque não podem, outros porque os seus direitos são inalienáveis, outros porque ameaçam sair da família, outros acham que não é justo ter de aceitar as condições de quem empresta. Assim nos vamos adaptando à persistente contingência resultante do facto de termos uma cama bastante maior que a manta: uns ficam com os pés de fora , outros mais encolhidos, outros recebem uns quantos arranhões dos que não querem cortar as unhas, uns quantos se constipam e mais uns tantos acabam mesmo por ficar vítimas dessa peste chamada pobreza. Em casa onde escasseia o pão todos protestam com ou sem razão, mormente quando o pão é estranhamente mal repartido. Resta-nos a expectativa de que um anunciado novo maestro venha ao menos sugerir alguma harmonia em tanta cacofonia.

sábado, 1 de janeiro de 2011

mãos abertas





Na tarde deste 1º dia de 2011 e enquanto oiço o concerto executado pela orquestra filarmónica de Viena, transmitido pela RTP, lembrei-me de retransmitir e partilhar os votos que hoje me chegaram, passados de mão em mão e voando nas asas do intemporal: "o Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a Sua face e te seja favorável. O Senhor dirija para ti o Seu olhar e te conceda a paz". Que melhores votos eu poderia receber e que de melhor poderei desejar a quem ler este blogue, aos meus amigos, familiares, concidadãos  e a todos os humanos em geral, neste 1º dia de 2011? Já que sou pequeno no ser e no dar que ao menos seja grande no desejar. Feliz ano de 2011.