domingo, 16 de agosto de 2009

O grande encontro




Hoje dei por mim a pensar naquela passagem referida no cap.1º/45 do Evang. de S. João em que se diz que Filipe, após ter sido convidado a seguir com Jesus, encontrou Natanael, o qual mesmo não atribuindo muita relevância ao encontro, aceitou ser apresentado a Jesus. Ora acontece que Jesus cumprimenta o céptico Natanael com um rasgado elogio: "eis um israelita autêntico, em quem não há fingimento". Ser recebido com um elogio é sempre meio caminho andado para iniciar uma relação cordial e construtiva. Este Jesus sabia mesmo de psicologia!. Vem isto a propósito de que fui ontem ao funeral dum amigo que ao longo do tempo sempre se assumiu como agnóstico, pois achava que era demasiada ousadia afirmar-se ateu. Era reconhecido como um homem bom por aqueles com quem se relacionava. Respeitando a sua maneira de ser e não acreditar, mais não me restou que, em diálogo silencioso, apresentá-lo a Jesus, lembrando-Lhe que, como Ele afirmara, "na casa do Pai existem muitas moradas"e pedindo-Lhe que o acolhece com a simpatia com que acolheu Natanael. Aliás ao longo da vida tenho solicitado um número significativo destes encontros, os quais sempre deixam em mim um rasto de confiança de que serão sempre encontros de verdadeira descoberta e de sucesso. Imagino uma imensa cidade habitada por muitas e variadas gentes: a comunidade dos ex-ateus, a comunidade dos ex-agnósticos, a comunidade dos cristãos, a comunidade dos judeus, a comunidade dos muçulmanos, a comunidade dos hindús, a comunidade dos budistas e muitos mais. No centro dessa imensa cidade há uma não menos imensa e grandiosa praça central para a qual converge toda a cidade e onde todos os seus habitantes se reunem sem medo, engalanados com o colorido das suas diferenças, para a permanente festa da Vida. Não há mais noite, nem necessidade de outra luz que aquela que brota do Sol da Vida. A aclamação, a acção de graças, o louvor, a alegria de viver, a festa enchem a nova cidade de DEUS e da HUMANIDADE. E porque a Vida e a Amizade são intemporais, até sempre companheiros e companheiras de jornada!.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A arte de fazer rir



Passar pela vida assumindo, de forma bem conseguida, como grande função fazer rir os demais é certamente um privilégio de que poucos se podem gabar, sobretudo quando essa maneira de ser e de estar é acolhida e correspondida pela comunidade humana na qual se está inserido. Descobrir o lado lúdico das coisas, das pessoas, dos acontecimentos, dos sucessos e das frustações e partilhá-lo de forma simples, respeitadora e em linguagem não ofensiva nem deprimente, é uma forma de libertar as pessoas do lado sombrio que acompanha sempre cada intervenção humana por mais rotineira, episódica, ou surpreendente que ela seja. Raul Solnado passou décadas da sua vida temporal fazendo rir as pessoas, brincando com o lado lúdico da vida, dizendo humorìsticamente na praça pública que afinal o "rei ía nú" e que não havia tecido suficiente para cobrir tanta nudez. Muitas vezes o ouvi cantar: "português ou mal-me-quer, em que terra foste semeado; português ou mal-me-quer, cada vez andas mais desfolhado". Parece que estou a ouvi-lo do lado de lá da fronteira do tempo e do espaço, onde já ninguém "desfolha"o seu igual, dizer com o seu sorriso feito de sátira, de malícia amável e de mistério infantil: "façam favor de ser felizes!". Aqui deixo a minha homenagem ao homem que foi a expressão do sentir comum do "zé povinho português"que, no meio das dificuldades da vida, lá vai resistindo e dizendo: "tristezas não pagam dívidas", "pobrete mas alegrete"!.