segunda-feira, 29 de março de 2010

incrível

Um artesão com a arte de carpinteiro, um burrito, umas vestes a servir de albarda, umas crianças e uns populares ostentando alguns ramos de oliveira e de palmeira e aí temos um acontecimento, que, pasme-se, continua a ser relembrado dois milénios passados. Ou a História enlouqueceu, ou o anedótico virou sucesso, ou o contraponto aos padrões dominantes foi de tal forma escandalizante que provocou uma gargalhada tão sonora que chegou aos ouvidos de muitos dos meus contemporâneos. E o que mais surpreende é que alguns dias depois este carpinteiro é acusado de ser aclamado como rei, de subverter a ordem estabelecida, de ter a louca ousadia de se afirmar filho de Deus e de conviver com os marginais. Os detentores do poder político, do poder religioso e do poder económico, alicerçados na ordem imposta e na moral de conveniência, não gostaram da ousadia, do ridículo, da loucura e da fantasia espontânea. Não se podia jogar impunemente com os alicerces considerados inamovíveis. Há fantasmas que não podem ser acordados, por isso esperem mais ums dias para verificar que nesses tempos a justiça funcionava célere e era cumpridora eficiente da lei.

domingo, 14 de março de 2010

Gerir o ingerivel



A semana que terminou e a que começa estão sob a influência, não sei se benévola ou se malévola, do Orçamento do Estado para 201o e da discussão do Plano de Estabilidade e Crescimento para o triénio seguinte. Veremos se o referido orçamento é mais que um "urçamento" e se o procurado "PEC" não se transformará num "pic"(plano de instabilidade crescente). É certo que "casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão"e que adiar a tomada de decisões inadiáveis não resolve nenhum problema. Importa que as decisões sejam ponderadas, concertadas e implementadas com sentido de responsabilidade. As doenças graves não têm curas rápidas e a ausência de perspectivas e objectivos claros não mobiliza para a recuperação consistente. Tudo isto são lugares comuns e por isso é difícil compreender porque é necessário tanto paleio para concluir o que é demasiado óbvio. Parece haver sempre mais uma razão para protelar: umas vezes é porque a esquerda está partida, outras porque a direita está anémica, outras porque o centro é gelatinoso e outras ainda porque um corpo com estas mazelas é incapaz de definir com sucesso e em tempo útil qualquer objectivo mobilizador. Quanto mais "papas de linhaça" mais a infecção avança. Quanto mais fantasmas a atormentar-nos, mais vampiros a sugar o pouco sangue do corpo colectivo.
Quer nos reconheçamos como crentes ou descrentes, quer por motivações sociais ou também religiosas, o certo é que estamos todos em tempo de efectiva quaresma e num tempo em que, quer queiramos quer não, todos somos chamados a algum jejum a favor do corpo colectivo. E se assim é que o façamos de forma assumida e não como cativos levados acorrentados para uma qualquer babilónia. A aurora da vida chegará, só não sei se ao terceiro dia, se ao terceiro ano, ou se é preciso que passe esta geração que se ufana de ter como paradigma de sucesso o"ter" por qualquer meio e o "poder" por qualquer preço.

domingo, 7 de março de 2010

Raizes



Neste fim de semana fui especialmente sensibilizado para a figura de Moisés. Moisés foi sem sombra de dúvida uma das figuras primeiras da história da civilização judaico-cristã. Da simbiose entre as culturas mesopotâmicas e egípcia surgem, por acção de Moisés, as bases que, juntamente com a herança greco-romana, constituem os alicerces sobre que assenta a nossa cultura ocidental e por osmose, e com várias tonalidades, o melhor do pensamento humano. Moisés formalizou esse transcendente e actual código de direito social e religioso que são os "Mandamentos". Os Mandamentos são essa sarsa ardente que não se consome. Moisés concluiu, sem margem de dúvida, que a relação com Deus passa pela libertação do Povo e que a libertação do Povo se processa pela fidelidade à relação com Deus. Os seres humanos têm de ser motivados a sair da situação de escravidão e a visão de Deus tem de ser purificada da noção de domínio e da noção de ausência. Tudo isto está expresso no terceiro capítulo do livro do Êxodo: " vi a aflição do Povo e desci para o libertar" e dirás ao Povo que "EU SOU AQUELE QUE È". A centralização na noção de "SER" deixa de dar a primazia ao "PODER" e ao "TER". Assim poderemos chegar à ideia de que a mensagem bíblica aponta para a prespectiva de que Deus é pobre e fraco, pois não necessita do poder, nem do ter, para "Ser Aquele que È". Como poderia então Jesus estar de outro lado que não do lado dos pobres, dos fracos e dos oprimidos?