domingo, 19 de fevereiro de 2012

Reflexão de fim de tarde




Nesta tarde soalheira de Fevereiro mascarado de Verão e no início deste período carnavalesco em que socialmente se procura mostrar um pouco do que habitualmente anda oculto, dando um certo escape ás muitas fustrações e tensões acumuladas, dou por mim ocupado com alguns pensamentos que de forma gratificante estão povoando a dimensão do meu sentir.                                     
                                              
Confirmo que não é fácil passar da perspectiva do "talvez" para a dimensão do "afirmativo", que  leva a dizer "sim" quando sim e "não" quando não. Até se diz que a realidade não é a preto e branco, o que equivale a afirmar que a realidade é pardacenta, não se sabendo nunca onde começa e onde acaba. Como a realidade é a verdade, nunca se sabe bem o que é verdade e o que é mentira, tudo dependendo da arte comunicacional, e da conveniência circunstâncial. Assim chegamos á mentira piedosa e ou de conveniência, á chamada verdade de circunstância e ao politicamente correto. Estamos neste processo no caminho da desconfiança  relacional, da atitude de defesa permanente e da insegurança sistémica. Só um grande carnaval nos pode momentaneamente descomprimir.
                                      
Em tempos de crise económica não é fácil intervir a favor do "outro" na sua totalidade. Ou ficamos sensíveis apenas á dimensão material e promovemos a afirmação do "coitadinho" e do "pobrezinho", ou apenas voamos nas asas do "espírito" e caímos na dimensão da relação alienante e ineficaz. Uma dinâmica de promoção integral de todo o "outro"é certamente  a luz condutora. Direitos sem deveres geram ditadores e deveres sem direitos geram escravos.

Numa sociedade de consumo o não consumir a ritmo sempre crescente é gerador de crise e de retrocesso. Quando se consome pouco é porque se tem pouco, ou porque se tem medo de perder aquilo que ainda resta. O sistema entra em perda acelerada e não é fácil voltar á alienante mas saudosa dinâmica do "compre agora e pague depois". A relação de mãos abertas é cada vez mais rara, pois quem tem não abre as mãos porque quer guardar o que julga ter e quem não tem só sabe abrir as mãos para receber e uma vez recebido logo as fecha. Seja qual for a atitude individual uma certeza se impõe como irrefutável: todos nos apresentaremos perante a VIDA de mãos abertas à gratuidade.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

aplauso merecido



No meio da ansiedade generalizada, abundantemente alimentada pelo cacarejar das muitas aves canoras que chilreiam através dos écrans dos vários canais da televisão, dois acontecimentos chamaram recentemente a minha atenção pela positiva. O primeiro foi a grande manifestação realizada na Praça do Comércio no passado Sábado e o segundo foi a resposta positiva aos pedidos para que fossem  reforçadas as dádivas de sangue. O primeiro manifestou de forma clara, ordeira e democrática as inquietações e incertezas da sociedade portuguesa e o segundo revelou a generosidade de muitas pessoas que ofereceram do melhor de si mesmas: o seu sangue a favor de necessitados anónimos. Uns e outros são dignos de sublinhado aplauso e revelam que alguma coisa temos crescido como povo.