sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal de 2009


Hoje é dia de Natal! Finalmente se descansou da azáfama em que todos de uma forma ou de outra andámos envolvidos. Mas que festejamos afinal? Que força nos impele a manifestarmos o que de melhor existe em nós? Quem nos faz mais próximos? Quem embala a criança que em cada um de nós ora chora, ora sorri? O que se passa é que Deus se fez criança humana e a pessoa humana ascendeu ao estatuto de filha adoptiva de Deus. Não sabemos explicar a transcendência deste acontecimento, mas sentimos que algo de inteiramente novo entrou na nossa história individual e colectiva.

Neste dia fui especialmente sensível á afirmação do Cardeal Patriarca de Lisboa ao afirmar que "só os homens justos e as mulheres justas são capazes de construir a justiça". Esta afirmação em dia de Natal adquire especial significado e faz-me pensar no que explica que o nosso sistema de Justiça ande tão esburacado.

A televisão faz chegar até nós a universalidade do Natal e assim torna próximo o que está distante. O Natal faz da nossa terra a "cidade não abandonada".

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal de 2009


Nesta véspera de Natal sinto-me fraterno com todos aqueles que, tal como eu, reconhecem Jesus como a grande dádiva de Deus á Humanidade, pois Ele é de facto o Deus Connosco, mas sinto-me igualmente em comunhão com todos os humanos que de diversas formas se alegram pressentindo que algo de transcendente aquece os seus corações, tornando-os mais próximos e mais solidários. Sei que este sentir universal brota, para uns da certeza, para outros da intuição, de que Deus é a nossa paz. A minha memória reconduz-me ás vivências do meu ontem desmultiplicado em experiências simples, reflexões académicas, especulações de tipo filosófico, análises sociológicas, vivências afectivas e celebrações religiosas. Todo este património acumulado me leva nesta noite que se aproxima a, na simplicidade do encontro com uma criança, proclamar: "glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que Ele ama".

domingo, 13 de dezembro de 2009

Natal de 2009



João Baptista continua por aí, não sei se dirigindo-se à cidade ou se de regresso ao deserto. Seja qual for o seu rumo sempre vai insistindo em dizer que se não nos abrirmos aos outros, se continuarmos a achar normal engordar à custa da pouca gordura dos magricelas e se vivermos pacificamente com a utilização da força do poder para manter as múltiplas estruturas de poder, certamente que, apesar dos muitos baptismos recebidos, ainda nos falta ser baptizados no "Espírito Santo e em fogo" transformador. Cada celebração de Natal é uma nova proposta e refugiarmo-nos no folclore mítico de tipo pagão, ou na tradicional celebração pretensamente religiosa, apenas nos levará à prosaica, enfadonha e resignada constatação de que "foi mais um Natal". A preocupação da procura inteligente do sentido das esperanças profundas da humanidade e de cada pessoa; a descodificação do sentido das palavras, dos gestos, dos ritos e das celebrações; o cultivo da tolerância activa com os que na sua especificidade calçam não os sapatos de modelos instituídos, mas sandálias que mal protegem do pó e da lama, serão certamente janelas por onde vai entrar o Sol da paz e da alegria.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Saudação



É uma honra e uma alegria participar nas festividades promovidas para honrar os que nos são caros e que pela amizade, ternura e protecção estão presentes na nossa vida individual e colectiva. Hoje é um desses dias em que festivamente nos dirigimos a Maria, a mãe de Jesus, proclamando que Ela é a "honra da Humanidade", a alegria do "nosso povo", a rosa que embeleza a nossa "casa terrestre", a estrela que aponta o rumo da nossa "barca da vida" e a ternura de Deus que nos é dada para adoçar as agruras da nossa existência. Os nossos antepassados a proclamaram em 1646 como Padroeira e em 1656 também como Rainha. Esta Rainha não vive dos nossos impostos, não cobra vassalagem, não convoca para o julgamento, apenas nos sorri e estendendo-nos os braços nos diz: "tende coragem, não desistam de construir um "homem novo" e uma "nova cidade" em que "todos tenham lugar "e em que cada vez mais Deus seja tudo em todos. Ao nosso desabafo de "como é que isso vai ser possível", Ela responde-nos com simplicidade e certeza total: "não temais pois a Deus tudo é possível". Unindo-me à multidão dos que neste dia festejaram, ou simplesmente alteraram o seu ritmo de actividade normal, saúdo Maria de Nazaré, a eleita de Deus para ser a mãe de Jesus, a mãe da "nova humanidade". Ao pensar Nela recordo a minha mãe e ao recordar a minha mãe vislumbro a Sua suave presença.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Natal de 2009



A última semana ficou marcada por dois acontecimentos que ficam como referência durante todo o presente ano e a balizar, cada um à sua maneira, o futuro tanto nesta ancestral Europa, como em toda a vasta área ibero-americana. Estou a referir-me à cimeira ibero-americana do Estoril e à entrada em vigor do novo Tratado Europeu, conhecido como o Tratado de Lisboa. Que os líderes da quase totalidade dos países de língua portuguesa e espanhola se tenham reunido na "casa portuguesa" para conversar é só por si um acontecimento de importância relevante. Que os vinte sete paises da Comunidade Europeia tenham em Lisboa , no passado dia 1 de Dezembro, dado início ao tratado de Lisboa é um acontecimento que ficará na história desta velha Europa, que muito penou para chegar até aqui, mas que se pode orgulhar de ter atingido uma fase nobre no relacionamento entre povos, estados, línguas e culturas . Quem viveu as tragédias do passado só pode alegrar-se com o caminho percorrido. Foram muitos séculos de evoluir até chegarmos aqui.

Neste terceiro domingo que precede o Natal ouve-se o eco da palavra austera de João Baptista que chega da profundidade do tempo e do silêncio do deserto proclamando a urgência de "construirmos novos caminhos, prenchermos os vales que nos separam e aplanarmos as barreiras que nos dividem, para que para todos chegue uma nova ordem em que a justiça seja a base sobre a qual se constrói a nova cidade".

A"nova sociedade" vai surgir a partir da reciclagem das velhas, bafientas e empoieiradas mentalidades que desfiguram o que de melhor existe em cada ser humano. Uma nova cidadania em que esta história nos escandalize pelo seu anacronismo e infantilidade primária: "na sociedade do tempo das cavernas existiam quatro tipos de cidadãos: "Toda-a-Gente", "Alguém", "Qualquer-Um"e "Ninguém". Havia um importante trabalho a realizar, (o trabalho de remodelar a casa comum) e "Toda- a- Gente" tinha a certeza de que "Alguém " o havia de fazer. "Qualquer Um "o podia fazer, mas "Ninguém " o fez . "Alguém" se zangou porque era um trabalho para "Toda- a- gente". "Toda -a- Gente" pensou que "Qualquer-Um" o podia ter feito, mas "Ninguém" constatou que "Toda- a- Gente" não o faria. No fim "Toda- a-Gente" culpou "Alguém", quando "Ninguém" fez o que "Qualquer-Um" podia ter feito. Assim surgiu um quinto tipo de cidadão: o tipo "Deixa -Andar".