sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

despedida





Digo adeus a 2010 e saúdo 2011. Mais um pouco e de 2010 fica a recordação e de 2011 perfila-se a expectativa. Quer queiramos quer não todos prestamos vassalagem a essa realidade a que se chama tempo, que não abranda a sua marcha persistente, nem se submete a qualquer conveniência de circunstância. Medimos a nossa existência por uma fatia maior ou menor de tempo passado e contamos as nossas esperanças pelas hipóteses concretizáveis no tempo futuro. Nenhuma migalha do tempo passado é recuperável, nenhuma migalha do tempo presente é dominável e nenhuma migalha do tempo futuro é retardável ou acelerável. Já que não podemos dominar o tempo resta-nos tirar o melhor partido possível de cada momento que nos é dado viver. Assim alegro-me com todos quantos festejam eufóricamente o início dum novo ano, partilho a serenidade de quantos na tranquilidade do seu espaço aspiram a um novo ano de algum bem- estar e sou solidário com quantos apenas esperam agruras e carências. Para todos os meus contempoâneos em geral, aos meus concidadãos em especial e a quantos deixaram em mim a marca da sua amizade desejo o melhor possível no contexto em que cada um se encontra inserido. Como sempre a qualidade de vida individual não pode ser separável da qualidade da vida colectiva. Bom ano para todos.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Natal de 2010



Fim de tarde deste dia 25 de Dezembro de 2010. Tarde de Natal e abertura já para um novo dia que nos vai permitir contar que antes de ontem vivemos para a festa, ontem fizemos a festa e hoje vivemos da festa. Não quero contudo terminar este dia sem cantar a Jesus o "parabéns a você neste dia feliz" pedindo-Lhe que não apague a vela da verdade , da comunhão, da solidariedade e da esperança transcendente por Ele acesa no altar da consciência humana. É bem-vindo e o seu lugar entre nós só por Ele pode ser ocupado. Por isso permace Jesus connosco pois a tua presença aquece o nosso frio existencial, cura as nossas miopias e os nossos estrabismos, fortalece as nossas frágeis certezas e é bússola indicando o sentido do nosso caminhar. As mãos da humanidade se erguem numa universal salva de palmas de aplauso e reconhecimento.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal de 2010





Hoje é a véspera de Natal e aqui estou eu gerindo um emaranhado de emoções formado pelo sorriso nervoso e calculista da criança, misturado com uma boa dose de encenação do adulto, condimentado com os sabores e as luzes do presente fugaz e servido no prato das memórias. A vivência de mais uma celebração de Natal é composta por um misto de "já visto", mas ainda surpreendente e sobretudo ainda não compreendido. Também desta vez não convidei o "pai natal", nem cortei a árvore que cresce, nem brinquei ás árvores de plástico, nem tentei aprisionar as estrelas, nem fui ao curral desinquietar o burro nem a vaca. Apenas coloquei em cima da cómoda uma imagem evocativa da criança Jesus, outra de Maria de Nazaré e outra de José. É uma tentativa de centralização no que considero essencial e a partir daí gerir o acessório. Quem me dera neste dia poder proclamar com verdade esse cântico retido na memória secular formada a partir do nascimento de Jesus: "glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que Ele ama". Natal é acontecimento revelador de comunhão e solidariedade. Esse é o meu sentir neste dia. Bom Natal para todos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

o sonho





É comum dizer e ouvir dizer "que o sonho comanda a vida". Quando já não sonhamos é sinal que estamos num estado em que a vida não tem encanto, nem sabor, nem dinâmica mobilizadora. Encontrarmo-nos numa situação em que já não somos capazes de sonhar é sinal de desistência e de resignação com a triste e vil condição imposta pelo que julgamos ser uma fatalidade deprimente. Ter um grande sonho é lançar mais uma vez a semente à terra, é lançar mais uma vez as redes ao mar, é resistir perante a adversidade, é construir a partir do quase nada, é deixar o muro das lamentações e construir a nova cidade, é ser capaz de acordar e passar à lucidez do compromisso com o diferente. Sabemos que um sonho é proposta quando nos leva a fazer algo de novo que leve à superação do estado de modorra em que muitas vezes vivemos.
Hoje invoco a figura de José, carpinteiro de Nazaré e pai de Jesus. O aceitar o surpreendente desafio do sonho, o arriscar no não visível nem comum, o construir sobre o diferente, o aceitar o risco de se enganar, o acreditar no imprevisto, tornou-O num dos protagonistas discretos mas centrais do grande acontecimento que directa ou indirectamente centralizou a história humana em geral, apontou sentidos e significados novos à existência humana e fermentou o que de melhor a nossa civilização produziu. Para José, esposo de Maria de Nazaré, vai hoje a minha homenagem tão discreta e humilde quanto Ele. O Natal está á porta. Aguardo com encanto, simplicidade e com um misto de sonho e poesia a grande celebração do novo, do diferente e do transcendente, capaz de dar sentido ás coisas velhas e fazer novas todas as realidades. BOM NATAL.

domingo, 12 de dezembro de 2010

confiança





Acabo de chegar dum concerto de Natal em que actuaram cinco dos coros referenciados na freguesia do Lumiar. Já tinha saudades de ouvir canto polifónico, pelo que se juntou a poesia e a surpresa que é sempre a vivência do espírito de Natal á satisfação de poder saborear a harmonia. Enquanto absorvia a harmonia da melodia e acolhia a mensagem das palavras fiquei sensível á dimensão da confiança. Se Deus confiou na humanidade ao ponto de se fazer criança na confiante dependência de José e de Maria, como pode qualquer humano atento não confiar na discreta solicitude do nosso Deus? É certo que uns se dizem ateus, outros agnósticos, outros crentes, outros cristãos, outros cristãos católicos, mas duma forma ou de outra todos somos portadores dessa semente da esperança que nos leva a experienciar este sentimento: "apesar de tudo confio". Esta mensagem de esperançosa confiança ecoa a partir de algumas palavras proclamadas desde tempos longínquos, sempre que a situação individual e ou colectiva apresentou contornos de ausência de soluções para situações desesperantes: "tornai fortes as mãos fatigadas e robustos os joelhos vacilantes, não vos assusteis"(Isaías, profeta).Com alguma imaginação, alguma abertura ao futuro, uma boa dose de reflexão sobre o real e de convergência transformadora, o meu povo ultrapassará as dificuldades dos tempos presentes e aprenderá a construir na alegria um futuro que a todos honre e a todos traga "gozo e contentamento". O Natal está a chegar , é preciso mudar de rumo e ouvir a mensagem profética que nos vai chegando, mesmo quando nos parece chegar donde não estávamos de todo à espera.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

aclamação




Hoje é dia de aclamação celebrada na alegria simples e profunda com que a criança já na idade da rebeldia se abraça ao pescoço da mãe e com um misto de sedução e de amor filial lhe diz: "mãe és a maior, gosto muito de ti, e conto contigo para me ajudar a escolher a toilete para entar cada vez mais na grande festa da vida". Hoje aclamo e proclamo a Mãe da nova humanidade manifestada já, como primícia, em Jesus. Hoje é dia de parar um pouco e me sentar aos pés de Maria, a Mãe de Jesus, para simplesmente me sentir perto dela, a honrar e agradecer a Deus a sublime iniciativa de fazer da humanidade uma comunidade de Seus filhos adoptivos a partir do "sim" incondicional dessa jovem simples e discreta de Nazaré. De facto Maria de Nazaré é a glória da humanidade ao disponibilizar-se para ser o ponto de encontro onde a Divindade asssume em plenitude a Humanidade na pessoa única e impar que é Jesus Cristo. É certo que muitas vezes celebramos apenas porque é costume celebrar, festejamos sem nos apercebermos do sentido da festa e deitamos foguetes sobretudo para alimentar a indústria pirotécnica. Apesar disso nesta festa da Imaculada Conceição tenho orgulho de pertencer a um povo que A invoca como sua Rainha e Padroeira.

domingo, 5 de dezembro de 2010

aparências



Desde cedo constatei que as aparências são uma face sem a qual não existe a moeda. Não chega ser é necessário parecer. E tanta  ênfase demos ao "parecer" que a pouco e pouco o "ser" foi sendo sempre mais relativizado. Assim chegámos à dimensão de que se "parece" é porque "é". Se aparenta ser rico é porque é rico, se aparenta ser justo é porque é justo, se aparenta ser honesto é porque é honesto, se aparenta ser saudável é porque tem saúde, se aparenta ser verdadeiro é porque não é mentiroso. E neste baile de máscaras participamos não apenas como indivíduos, mas também como colectividade. Como sociedade procuramos viver com padrões de abundância e daí concluímos que somos uma sociedade rica. Na política ouvimos à saciedade afirmar que em política o que parece é. Na comunicação social constatamos que uma mentira persistentemente afirmada é mais eficiente que a correspondente verdade discretamente afirmada. Assim vamos vivendo a vida gerindo as aparências, organizando a sociedade na base da alienação, vivendo a política como uma escola da arte da simulação. Romper com esta lógica, quer por convicções pessoais ou por imposição da realidade, gera normalmente desânimo, desilusão e frustração. É preferível viver enganado do que ter de enfrentar a realidade. Mesmo quando proclamamos que "por dentro das coisas é que as coisas são", ou que as aparências iludem, ou ainda que a verdade é libertadora, o facto é que vivemos bem com a superficialidade, cultivamos as aparências, e vamos suportando a doce tirania do inútil, do supérfluo e da comédia pessoal, relacional e social.

Neste fim de semana foi invocada a figura de João Baptista que apela á mudança de comportamentos, à procura da verdade e à primazia do "ser" sobre o "parecer". Este desafio já vem de longe e interpela-nos mais uma vez e de várias formas neste Natal de 2010 que se aproxima. Mudar de rumo é urgente.