domingo, 5 de dezembro de 2010

aparências



Desde cedo constatei que as aparências são uma face sem a qual não existe a moeda. Não chega ser é necessário parecer. E tanta  ênfase demos ao "parecer" que a pouco e pouco o "ser" foi sendo sempre mais relativizado. Assim chegámos à dimensão de que se "parece" é porque "é". Se aparenta ser rico é porque é rico, se aparenta ser justo é porque é justo, se aparenta ser honesto é porque é honesto, se aparenta ser saudável é porque tem saúde, se aparenta ser verdadeiro é porque não é mentiroso. E neste baile de máscaras participamos não apenas como indivíduos, mas também como colectividade. Como sociedade procuramos viver com padrões de abundância e daí concluímos que somos uma sociedade rica. Na política ouvimos à saciedade afirmar que em política o que parece é. Na comunicação social constatamos que uma mentira persistentemente afirmada é mais eficiente que a correspondente verdade discretamente afirmada. Assim vamos vivendo a vida gerindo as aparências, organizando a sociedade na base da alienação, vivendo a política como uma escola da arte da simulação. Romper com esta lógica, quer por convicções pessoais ou por imposição da realidade, gera normalmente desânimo, desilusão e frustração. É preferível viver enganado do que ter de enfrentar a realidade. Mesmo quando proclamamos que "por dentro das coisas é que as coisas são", ou que as aparências iludem, ou ainda que a verdade é libertadora, o facto é que vivemos bem com a superficialidade, cultivamos as aparências, e vamos suportando a doce tirania do inútil, do supérfluo e da comédia pessoal, relacional e social.

Neste fim de semana foi invocada a figura de João Baptista que apela á mudança de comportamentos, à procura da verdade e à primazia do "ser" sobre o "parecer". Este desafio já vem de longe e interpela-nos mais uma vez e de várias formas neste Natal de 2010 que se aproxima. Mudar de rumo é urgente.

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