domingo, 16 de janeiro de 2011

fim de festa




Terminaram as festas do Natal e do Fim de Ano, comemos as filhós, lançámos os foguetes, dançámos o vira, o fandango e o malhão e fomos à gaveta ver se os euros restantes ainda chegavam até ao fim do mês. Como o saldo era negativo face á previsão dos encargos assumidos, fomos aflitos e com algum ar de pobre envergonhado pedir aos vizinhos que nos emprestassem o que nos falta. Os vizinhos disseram - nos que desta vez ainda emprestavam, mas exigiram-nos juros gravosos e disseram- nos que fizéssemos bem as contas pois viver do fiado acaba por mais cedo que tarde em dar mau resultado e a termos de empenhar os poucos haveres que ainda nos restam. Lá regressámos a casa com o ar de estranho alívio de quem empenhara mais uns anéis e a magicar como é que vamos conseguir viver apenas com o que conseguimos angariar. Será que vamos conseguir? Uns inteligentes dizem que sim, outros igualmente entendidos dizem que não, outros inspirados dizem que talvez, mas ninguém parece estar disponível para reduzir a sua mesada: uns porque não podem, outros porque os seus direitos são inalienáveis, outros porque ameaçam sair da família, outros acham que não é justo ter de aceitar as condições de quem empresta. Assim nos vamos adaptando à persistente contingência resultante do facto de termos uma cama bastante maior que a manta: uns ficam com os pés de fora , outros mais encolhidos, outros recebem uns quantos arranhões dos que não querem cortar as unhas, uns quantos se constipam e mais uns tantos acabam mesmo por ficar vítimas dessa peste chamada pobreza. Em casa onde escasseia o pão todos protestam com ou sem razão, mormente quando o pão é estranhamente mal repartido. Resta-nos a expectativa de que um anunciado novo maestro venha ao menos sugerir alguma harmonia em tanta cacofonia.

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