domingo, 13 de maio de 2012

A Senhora da charneca

   
Neste dia 13 de Maio encontram-se reunidas numa antiga charneca, lá para os lados de Fátima, umas centenas de milhares de pessoas oriundas das mais diversas paragens. Umas querem ver, outras celebrar, mas todas se movimentam atraídas pela sua própria motivação. Esta concentração  a ocorrer no centro da nossa Lisboa faria esquecer qualquer outra manifestação das muitas a que vamos assistindo e que chamam muito justamente a nossa atenção para a diversidade dos problemas que questionam a nossa sociedade. Já não falo dos estádios da nossa cidade que se enchem para verem extasiados 22 rapazes, vigiados por uns inspectores chamados árbitros, a correr atrás duma bola para ver quem a consegue encaixar nuns espaços chamados balizas.

Mas o que aconteceu lá na charneca que atrai, como se dum íman se trate, tanta gente que se entusiasma por chegar, se alegra com o estar e depois recorda com saudade a experiência de ter pisado aquelas paragens? Alienação! responderão os pseudo-racionais. Ignorância! responderão os pseudo-omniscientes. Sub- desenvolvimento! responderão os que se assumem como as primícias da nova sociedade. Turismo! responderão os que desconhecem a sua terra, mas vão apreciar umas quaisquer Berlengas situadas no outro lado do planeta.

O curioso é que perante tal multidão ficamos pensativos, cheios de perguntas, com a sensação de quem se quer encontrar e o pressentimento de que algo nos atrai e nos interpela. Ser seduzido pelo invisível e caminhar sentindo a terra que pisamos é uma experiência que nos orienta lá para as bandas do Sol Nascente que já ilumina o nosso hoje, mas que anuncia o nosso amanhã.

Algo de inteiramente novo e diferente aconteceu e acontece naquela charneca que duma maneira ou outra nos seduz e nos faz erguer o rosto para o alto onde até o sol parece dançar a dança da luz.

Senhora da charneca a nossa terra orgulha-se por teres deixado no meio de nós um sinal da tua presença amável, própria da presença duma boa mãe. É uma terra magra, cheia de pedras e abundante de espinhos. Transformá-la em terra fértil que dê pão para todos é tarefa árdua e que vai deixando as suas vítimas. Necessitamos da Tua ternura que vá cicatrizando as nossas muitas e por vezes profundas feridas.


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