terça-feira, 10 de novembro de 2009

A queda dos muros




Por vezes os caminhos têm tantas curvas e contra-curvas que é difícil vislumbrar se o local para onde pretendemos ir está longe ou perto. Quando isto acontece necessitamos de renovar as energias, continuar e confiar que havemos de chegar com sucesso.
Recordo-me que por altura dos anos de 197o muitos dos que partiam para a guerra colonial, ou dela regressavam, muitos dos que ficavam vivendo a angústia da incerteza e muitos dos que teimavam em manter viva a chama de que chegaria o dia em que a lógica da "pescadinha de rabo na boca" seria denunciada e regeitada, partilhavam com um misto de confiança, de revolta e de sentimento de luta latente, a esperança de que o derrube do poder instituido aconteceria. Só não sabíamos o como nem o quando. Por esses tempos, para nos animarmos uns aos outros, quando nos reuníamos em comunidade cristã, por vezes cantávamos: "os muros vão cair, os muros vão cair, e mesmo que demare muito, eu só sei dizer que os muros vão cair". Em abril de 1974 caiu o regime e as barreiras derrubadas, apesar das amachucadelas, não provocaram vítimas. Foi uma grande festa, a festa da vida, a festa de todo o povo.
Tive igualmente a feliz oportunidade de viver a euforia libertadora que foi o derrube histórico do "muro de Berlim". O muro caiu fez ontem 20 anos, o povo festejou e ninguém se magoou. Foi uma grande festa que continua a animar esta velha Europa que avança para a fase em que a diversidade reforça a unidade e a unidade faz brilhar a diversidade.
Se a vida ainda me mimar com mais alguns anos de saúde e lucidez de espírito, muito gostaria de poder festejar, além da queda dos muros da Irlanda e de Chipre, sobretudo a queda do muro secular que separa judeus e palestinianos. Bem sei que só vejo curvas e contra-curvas, mas quero partilhar a esperança de que tal acontecerá um dia para alegria de quantos continuam a acreditar que a força transformadora é como um íman que nos atrai a partir dum ponto situado algures no futuro.

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