domingo, 8 de fevereiro de 2009

Reflexões de fim de semana



Hoje enquanto almoçava a televisão transmitia uma reportagem sobre o encerramento da convenção do Bloco de Esquerda. Era manifesto o entusiasmo da crítica descomprometida, das afirmações alti-sonantes, das propostas sedutoras de quem não pensa levá-las à prática, enfim dos juizos de quem nunca teve de julgar e de decidir. É certo que novas ideias geram novas hipóteses e que novas hipóteses abrem a porta a novas soluções e nesta prespectiva a democracia como espaço de debate aberto, mesmo quando descomprometido, é sempre a eira onde à custa de muita pancada se vai separando a palha do grão. Como até aos 36 anos vivi sob um regimen monolítico, de bom grado me presto a pagar a factura resultante da produção de alguns excessos que acabam por ser acondicionados nos armazens de resíduos tóxicos que surgem como sub-produtos de qualquer regimen democrático. Mais tarde ou mais cedo esses sub-produtos acabam por ser reciclados e transformados em mais-valias e vantagens para uma sociedade pensante. Para além dos conteudos, das mensagens e dos jogos políticos, apraz-me sublinhar, com algum encantamento, o meu apreço pelas novas liturgias político-partidárias. Nem os carismáticos em todo o seu fervor religioso conseguem alguma aproximação. É a oratória inflamada, são as bandeiras que se agitam frenéticamente, são os punhos abertos ou fechados que se erguem com energia, são as cores e a disposição dos espaços, são os púlpitos e os lugares hierárquicos, são as palavras de ordem que definem o pensamento e as atitudes, são os mestres de cerimónias que marcam os ritmos das pausas, dos aplausos, dos exorcismos, das afirmações e das negações... Só falta em toda esta liturgia laica um rito de reconhecimento das próprias contradições, das inverdades, do uso abusivo das fragilidades de muitos, da procura do poder pessoal e grupal.
A par e para além do que atrás fica referido algumas outras reflexões me ocuparam a mente e preencheram este domingo que se apresenta triste, sombrio, de horizontes baixos e um tanto lacrimejante. A precaridade e transitoriedade da existência, das coisas, das relações, das decisões, dos fenómenos, das respostas, dos acontecimentos é uma dimensão que por um lado é assustadora e por outro é esperançosa. Tudo depende do referencial de vida que cada pessoa consegue assumir. Estar atento ao que cada pessoa é e não sobretudo ao que ela parece, ou ao que ela tem e pode, é certamente um bom caminho a percorrer. Fazer a aventura da gratuidade nas atitudes e nas relações humanas pode ser uma boa forma de viver a vida sem o sentido da perda constante. Reflectir, fazer sínteses, procurar respostas é um exercício saudável de procura, de descoberta evolutiva e de enfrentamento da referida precaridade.

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