domingo, 21 de fevereiro de 2010

Desinstalação

É impossível não estar atento ao que acontece à nossa volta! Andamos atarefados com o supérfluo, frustrados porque o tempo não permitiu que brincássemos ao Carnaval, aparvalhados com o clima de comédia instalado pelos sucessivos folhetins de baixa política, ampliados até à exaustão pela comunicação social. De repente e sem sermos ouvidos, a Natureza mostra-nos que não somos os senhores do mundo, mas apenas seus usufrutuários e que ou sabemos conviver respeitando as suas regras, ou somos vítimas dos nossos excessos e imprevidências. Ainda recentemente assistimos à tragédia do Haiti. Ontem fomos surpreendidos pela catástrofe na Madeira. Os danos em sofrimento humano não são mensuráveis para cada um dos atingidos e os estragos em valores materiais e ambientais não são fáceis de contabilizar. Solidariedade na vivência do sofrimento presente e compromisso de reconstrução a pensar no futuro são sentimentos que devem unir os portugueses e polarizar as suas energias e generosidade. Se temos tanta dificuldade em definir e assumir objectivos colectivos, ao menos sejamos lestos em ultrapassar as dificuldades e dramas que se abatem sobre nós.

Nesta semana que terminou fui especialmente sensível a três grandes realidades:
- A realidade humana e portanto a realidade de cada pessoa é marcada pela precaridade. Ser humano é ser alguém que tem de aprender a viver com a precaridade, com o relativo e com o transitório. Sedentos de segurança, de apoio firme e de apoio consistente para onde ou para quem nos dirigiremos?
- O ser humano na ânsia de dar resposta à sua precaridade facilmente procura refugiar-se na azáfama da posse de bens transitórios (do ter) e no desejo de crescer em poder ( ser o seu próprio ídolo e ser tratado como divindade). Contudo os ricos e os poderosos continuam a ser os primeiros arautos mais visíveis da precaridade humana.
- Uma sociedade que assuma com realismo consequente a sua precaridade presente e cultive a esperança individual e colectiva só pode avançar se progredir pelas vias da Justiça e aprender a gerir de forma justa o "ter " e o "poder". Como sair da nossa ilusão da auto-suficiência e aceitar que só podemos avançar de forma solidária?

As comunidades cristãs deram início a um longo período de reflexão chamado Quaresma. Procuram respostas para o sentido da vivência do transitório, para a urgência de encontrar e encorajar novas formas de convivência que coloquem o "ter" e o"poder"ao serviço do "ser" e procuram "apurar o seu gosto pela Vida".

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