domingo, 24 de outubro de 2010

insónias



Distinguir onde acaba o sonho e começa a miragem não é fácil, sobretudo quando se não deseja encarar a realidade e se opta por planar numa dimensão situada algures entre o dormir e o acordar. Já não podemos dormir, mas recusamo-nos a acordar, pois não sabemos se o que vamos encontrar é um dia de invernoso nevoeiro, ou uma noite fria e sem luar. O dia de ontem foi passado em farras, passeatas e jogatanas, esquecendo-nos que amanhã teremos de pagar as contas ao merceeiro, comprar sabão para lavar a muita roupa suja, livrarmo-nos dos muitos parasitas que se agarraram à nossa cansada carcaça e acender o lume para cozer um pouco de feijão carito com uma talhada de abóbora porqueira, uma vez que a abóbora menina se esgotou com os últimos pastéis de vento consumidos. O melhor é encontrar e delegar num grupo de magos que proclame e demonstre que somos um bando de coitadinhos, alienados e irresponsáveis e defina novos e convincentes sacrifícios aos deuses que comandam os nossos destinos individuais e colectivos. Aguardamos ansiosos e expectantes que a magna reunião encontre a magia que permita ao menos apaziguar esse monstro a que chamamos "DÉFICE"e se alimenta das poucas reservas de sangue já demasiadamente contaminado.

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