sábado, 29 de novembro de 2008

A luz na cidade


A minha cidade está iluminada. Está mais bonita e acolhedora quando chega a noite. Dá gosto passar à noite pelas ruas engalanadas de luz. Mas o que se passa de tão importante para levar a que achemos bem, numa fase de carestia energética, gastar assim no supérfluo, no visual, na maquilhagem da velha senhora, que gasta uma fatia da sua magra pensão para se mostrar bem ataviada na romaria organizada pela sua aldeia á senhora dos aflitos? Esta tarde fui ao supermercado e os meus ouvidos transportaram ao meu consciente esta mensagem: "despacha-te, acorda, compra, não te atrases, temos aqui muita coisa supérflua e inútil que podes levar, para depois os teus familiares e amigos poderem usufruir da alegre oportunidade de participar no esforço comum de enchimento acelerado dos contentores de reciclagem". A associação da luz ao consumismo irracional deixou-me triste. Quero acreditar que os homens e mulheres da minha cidade ainda pensam sobre o sentido da vida, sobre a alegria do encontro simples e afável, sobre a ternura duma criança que nasce e sorri, sobre a cordialidade na relação humana. Compreendo que o comércio tente vender-me qualquer utilidade ou inutilidade para arrecadar uma parte ou a totalidade do subsídio de Natal, mas não abdico da minha racionalidade.

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